| A | B | C | D | E | F | G | H | I | J | K | L | M | N | O | P | Q | R | S | T | U | V | W | X | Y | Z | Estrangeiros | |||||||||||||
PIMENTA, Alfredo Augusto Lopes São Mamede de Aldão, 1882 – Lisboa, 1950 |
|||||||||||||
E a verdade é que, para sustentar essa orientação, Alfredo Pimenta abandonará deliberadamente a objetividade em determinadas ocasiões – ou, pelo menos, tentará fundamentar “a sua” objetividade específica, que passava, por exemplo, pela validação de tradições providencialistas negadas pela história-ciência, como Ourique. É, em todo o caso, interessante que o reconheça abertamente, ao invés de outros historiadores do mesmo espectro ideológico. Por exemplo, ao escrever nos Elementos da História de Portugal que “não fora a hora que o país atravessava de liberalismo anticatólico e antiportuguês, teria feito uma história exclusivamente científica que seria uma apresentação dos factos e das suas fontes sem qualquer espécie de nevoeiro filosófico a informá-los. No entanto, eles contêm uma forte dose de filosofia da História, a minha verdade, a minha doutrina. É a sua parte frágil porque é a sua parte discutível […]. Tive que a elaborar para a opor às minhas não-verdades que considero prejudiciais ao meu país» (Elementos de História de Portugal,1934, p. 42). Esta visão do passado, subordinando-o às problemáticas dos tempos contemporâneos, e somada à sua tendência natural para a polémica, colocá-lo-á por diversas vezes em choque com outros membros da República das Letras. Quer de quadrantes distintos – como Raúl Proença, Agostinho da Silva ou António Sérgio –, quer mais próximos, pessoalmente – como Joaquim de Carvalho. Nos dois últimos casos, em especial, é fundamentalmente a instrumentalização da visão histórica que motiva as principais discordâncias. Carvalho, que era seu editor na Imprensa da Universidade de Coimbra e a quem pede que leia os originais dos Elementos, via o trabalho de Pimenta como metodologicamente inovador (na pesquisa e utilização de fontes) mas “cientificamente discutível”, notando a atenção excessiva à história política e a secundarização do estudo da sociedade, da economia e das instituições (Joaquim de Carvalho, “Carta de 16-11-1934”, Cartas de Joaquim de Carvalho a Alfredo Pimenta, pp. 257-258). Posição que o próprio Pimenta rebaterá diversas vezes, argumentando que “A história dos povos é, afinal, a história dos seus grandes homens” (Novos estudos filosóficos e críticos, 1935, p. 160) e que, numa perspetiva positivista, seria do estudo desses grandes homens que se extrairiam lições importantes para o presente. Posição bem distinta, por exemplo, da que era assumida por António Sérgio. Na proposta apresentada pelo ensaísta na sua Introdução geográfico-sociológica à História de Portugal, que motivará uma polémica com Alfredo Pimenta, o fundamental não eram os factos, mas a relação que a razão permitia estabelecer entre eles (a Idade Média e a Expansão não enquanto fenómenos distintos, mas um só – a passagem da economia agrária local à economia burguesa, comercial e marítima, por exemplo). Para o historiador vimaranense, sucedia justamente o oposto: existiam factos “puros”, incontestáveis: “Uma coisa é a conquista de Ceuta, facto puro, e outra coisa é a explicação que o sr. António Sérgio dá a esse facto.” (A História de Portugal do Sr. António Sérgio, 1941, p. 25). |
|||||||||||||