Mas as relações históricas de Portugal com Espanha não são encaradas unicamente de maneira antagónica – muito pelo contrário. Na obra Hespanha e Portugal e suas affinidades (1921) – resultado de uma comunicação num encontro científico entre os dois países, no Porto –, Adriano Antero tenta demonstrar que os percursos históricos de ambas as nações teriam elementos e trajectórias históricas comuns. Através da caracterização geográfica da Península Ibérica e da apresentação das raízes políticas, sociais e culturais comuns (sobretudo romanas, visigóticas e muçulmanas), evidenciam-se condições e origens compartilhadas. Eventos políticos terão estado unidos de tal forma que, segundo o autor, os monarcas tiveram feições e desígnios similares; até o período colonial se operara de formas idênticas, desde as estruturas administrativas à colonização e interacção com os nativos. Todavia, são apresentadas algumas críticas: a má gestão dos territórios e a presença exagerada das respectivas coroas, que, pela taxação excessiva e administração danosa, terão levado os respectivos impérios à ruína não obstante eventuais tentativas de ressurgimento em momentos tardios – novamente o conceito de “decadência”, podendo associar-lhe o de “regeneração” como contraponto (Antero, Hespanha e Portugal …, 1921, pp. 73-5 e ss ).

Os projectos de união ibérica apresentam-se de forma romantizada (mesmo que liminarmente), como se houvesse uma predestinação nessa direcção . A ênfase nos combates em que os dois reinos travaram lado a lado é sintomática disto (dando o exemplo da batalha do Salado, em 1340), que surge em detrimento dos confrontos entre ambos. O autor urge a desejar manter esses eventos na história, dando-lhes visibilidade e estudando-os, mas apagados “no coração das duas nacionalidades” à vista de um fortalecimento de laços. Mas se reitera que Portugal preza a sua independência, mostra-se igualmente convicto de que as afinidades entre os dois povos os levou “algumas vezes, até o sonho de uma verdadeira unidade política” ( ibidem , p. 86).

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