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Esta marginalização terá sido penosa para Ricardo Jorge. Ainda publicou textos na área, sobre a eletrometria e eletrodiagnóstico, em 1884 e 1886, mas, em mudança de rumo, fez uma incursão no termalismo e irrompeu no campo da saúde pública com as conferências sobre Higiene Social, em 1884, que evidenciaram as precárias condições sanitárias do Porto e as ameaças epidémicas subjacentes. Estas conferências apontaram o caminho para o sanitarismo, área tutelada na Escola Médico-Cirúrgica por José de Gouveia Osório, na cadeira de Higiene e Medicina Legal. Gouveia Osório subiu, entretanto, a presidente da Câmara Municipal do Porto (1886-1887), mas logo faleceu (23.8.1887), sendo substituído na cadeira por Silva Pinto e na presidência por outro lente da Escola, Oliveira Monteiro (1887-1892). Neste ambiente médico municipal, Ricardo Jorge foi chamado para estudar o saneamento municipal e, posteriormente, para a organização e direção dos serviços municipais de saúde. Só em 1895 subiu a lente de Higiene e Medicina Legal. Se usava a história para explicar a ciência, Ricardo Jorge apelava também ao cultivo de outras áreas emergentes, como a sociologia e a psicologia, nos textos publicados na Revista Scientífica, de que era um dos criadores e responsáveis (1882). Anos depois, ao apresentar a recolha desses textos nos Ensaios Científicos e Críticos (1886), Ricardo Jorge assumia o seu ecletismo: “ao apontar estes fragmentos esparsos de biologia, filosofia, história, pedagogia e crítica, diante deste tecido multicor e heterogéneo, senti uma vaga e íntima voluptuosidade; como que o espírito se me sorriu, retratando-se nos cambiantes daquele caleidoscópio” (Ensaios scientificos…, 1886, p. 17). Afirma-se novamente como evolucionista, na esteira de Spencer (cuja tradução de “A Educação” prefacia), defendendo que toda a “instrução deve ser essencialmente científica”, que a ciência deve ocupar o lugar antes ocupado pelos estudos clássicos, “de brilho falso”, pois a postura científica deveria sustentar a consciência e o conhecimento e sobrepor-se ao dogma (Idem, pp. 128-129). A estadia no estrangeiro, permitindo o contacto com as novas tendências e práticas médicas, terá influenciado a proposta para a “renovação no ensino, sobretudo da Escola do Porto”, materializada no Relatório Apresentado ao Conselho Superior da Instrução Pública como delegado da Escola Médico-Cirúrgica do Porto (1885). Neste texto, surge um primeiro capítulo intitulado “História e Estatística”, que traduz uma documentada digressão temporal sobre a emergência da Escola do Porto, as condições do ensino e as práticas médico-cirúrgicas. O exercício histórico volta em 1888, com o Gerês Thermal, ao perscrutar as “minúcias interessantes de história e bibliografia, para além das explanações hidrológicas” desta estância em que tinha interesses na exploração da concessão e assumiu a direção clínica. Pouco depois, dedica um capítulo à história em Caldas do Gerez – Guia Thermal (1891). |
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