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JORGE, Ricardo Porto, 1858 – Lisboa, 1939 |
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Egas Moniz focaliza o seu pendor historiográfico na história da medicina, o pendor para diagnósticos retrospetivos de vultos da história (Lisboa Médica, n.º 9, 1939). Eduardo Coelho regista-lhe o espírito cartesiano, a “dúvida metódica como princípio e regra do espírito”, o reconhecimento do erro e, daí, o relevo dado à medicina de outrora, considerando que Ricardo Jorge “nunca teria sido o epidemiologista que foi se não tivesse aprofundado e estudado a história das epidemias que descreveu e viveu” (Boletim do Instituto..., 1946, p. 256). Que conceções de história perfilha no convívio do seu tempo? Voltemos ao texto Contra um plágio do Prof. Theophilo Braga. Ricardo Jorge expõe as linhas da sua historiografia em defesa própria. Contrapõe a metodologia histórica às práticas romanticistas atribuídas a Teófilo: a prática historiográfica recente ultrapassara “pecados velhos”, regenerava-se pelo exemplo de “mestres austeros” e com “a promulgação do código processual das suas investigações e elaborações”, através de normas que serviam de guia para evitar os erros e descréditos de “narradores do passado”. Uma “história digna do nome só o pode ser a sujeita às injunções da análise crítica e à inspiração do espírito da ciência”, prática a moldar pela dos autores das ciências de observação. Devia aplicar-se o método experimental à história, com as regras de “curiosidade desinteressada, probidade severa, paciência laboriosa, submissão aos factos, dificuldade no crer — no crer em si como no crer em outrem —, incessante necessidade de crítica, de contraste e de verificação”, transcrevendo G. Lanson. Recorre ainda a Langlois e Seignobos para dizer que a história é “a disciplina onde mais se necessita que os trabalhadores tenham consciência clara do método de que se servem”, exigência que escasseava “por a sua matéria ser tão popular e acessível a tantos”, citando Georg Waitz — “talvez nenhuma ciência tenha padecido tanto do diletantismo como a história”. Apelava à “propedêutica histórica, mestra rigorosa e acautelada da veracidade e da honestidade, próprias de tudo o que seja ciência ou o pretenda ser”, e, em nota, revela os mestres inspiradores: “Ch. e V. Motet, P. Lacombe, G. Renard, G. Lanson, G. Monod, Ch. V. Langlois, Ch. Seignobos”, sem esquecer Bernheim e Spencer e os “tratadistas da lógica aplicada”. Ricardo Jorge remete-nos, assim, para os mestres franceses e alemães da história positivista e/ou metódica, que tentaram aproximar a história da metodologia das ciências naturais: definindo objeto e método, a história do passado humano fazia-se com documentos, selecionados pelo exame da crítica das fontes, para depois ordenar, classificar, interpretar, relacionar factos e depois escrever, na mediação entre o passado e o presente. Esta história metódica procurava a “verdade”, eliminando erros ou inexatidões, buscava o documento original como testemunho fidedigno, através da procura e da crítica, evitava tomar partido através de exaltações ou condenações por motivos patrióticos ou outros, dado que a finalidade da história seria apenas o saber, excluindo a produção de sentimentos ou moralismos. |
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