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JORGE, Ricardo Porto, 1858 – Lisboa, 1939 |
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As divagações pela história e pela cultura traziam novas contribuições publicadas na Revista da Universidade de Coimbra. É o caso de El Greco (n.º 1, 1912, pp. 648-694), uma abordagem psiquiátrica à obra do pintor. E do estudo mais amplo, Francisco Rodrigues Lobo, ensaio biográfico e crítico, em sucessivos números (de 1912 a 1917) e, mais tarde, a compilação global (1920). Rodeando a sua análise de múltiplas anotações históricas, o estudo sobre Rodrigues Lobo permitiu-lhe aprofundar a cultura do século XVII. Tornou-se um trabalho muito referido pela acusação de plágio que Ricardo Jorge fez, em 1916, a Teófilo Braga, no jornal A Capital, num texto panfletário que suscitou polémica depois alargado em Contra um plágio do Prof. Theophilo Braga (1918). Em 1921, Ricardo Jorge voltou ao Porto, 22 anos após o seu afastamento tumultuoso: a 27 de julho, proferiu uma das conferências plenárias do Congresso Científico Luso-Espanhol, A intercultura de Portugal e Espanha no passado e no futuro, depois inserto em Sermões dum Leigo (1925). O conhecimento histórico sustenta esse discurso marcado pela retórica fraternal, com propostas para o intercâmbio entre os dois países. Voltaria em 1923 à Faculdade de Medicina do Porto para uma homenagem a Maximiano Lemos, antigo colega e o mais conceituado médico-historiador da Escola do Porto. Ricardo Jorge considera que Maximiano Lemos desenvolvera uma obra de 40 anos sobre a história da medicina num meio acanhado, o que, noutras culturas, teria amplo reconhecimento. Neste texto, Ricardo Jorge exprime-se sobre o conhecimento histórico: “Toda a ciência é inconstituível sem o alicerce histórico. É a história que presta a perspetiva ao quadro pintural dos nossos conhecimentos, ela quem lhes assegura a continuidade e a diretriz, quem nos diz donde vimos e nos guia para onde vamos” (Sermões dum Leigo, 1925, p. 248). E, se o século XIX lhe parecia ter sido o “século da história geral”, profetizava o século XX como o “século da história das ciências”, dadas as tendências observadas em vários países e, assim, o reconhecimento futuro para Maximiano Lemos. Ricardo Jorge retorna, pela via cultural, ao meio portuense, num livro interessantíssimo – Camilo e António Ayres (1925), recuperando o poema satírico As Comendas, de António Ayres de Gouveia Osório, precedido de longo texto em que rememora o conflito entre os dois intelectuais oitocentistas, descrevendo ambientes do liberalismo monárquico num fresco pleno de memórias, mas também de investigação. |
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