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JORGE, Ricardo Porto, 1858 – Lisboa, 1939 |
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Em 1899, o relatório “A Peste Bubónica no Porto”, relatando a marcha da epidemia então vivida, abre com a transcrição de uma carta de D. João II à vereação do Porto, datada de 1493, sobre a “pestenença” vivida na cidade. O Arquivo Histórico continuava a ajudar na explicação sanitária! Mas a situação criada pela “peste” obriga Ricardo Jorge a transferir-se para Lisboa, dado o mal-estar criado na cidade, em face das medidas sanitárias adotadas pelo governo, que impuseram o isolamento da cidade e trouxeram a paralisia económica. Reações hostis de grande violência dirigiram-se contra ele, mensageiro da má notícia. A transferência para os serviços sanitários no Ministério do Reino (e para a Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa) tiveram como resultado a reorganização dos serviços, com a criação do Instituto Central de Higiene (1899) e a produção de um documento axial – o Regulamento Geral dos Serviços de Saúde e Beneficência Pública (1901), cujo relatório preambular traz uma resenha histórica da situação. Ricardo Jorge é nomeado inspetor-geral desses Serviços e, pouco depois, diretor-geral. Confessando-se burocrata do poder central, aludirá frequentemente à falta de meios para concretizar medidas. Mas foi nestas funções que iniciou a representação portuguesa no Office Internationale d’ Hygiène Publique, viajando pelo mundo em reuniões e congressos, deixando memórias científicas e relatos de viagem em periódicos, além de tempo para outros estudos. A vocação historiográfica voltou com a publicação de “Cartas de Ribeiro Sanches” (Medicina Contemporânea, 1907), texto no qual enquadra e edita duas interessantes missivas do médico setecentista ao oratoriano Teodoro de Almeida. Em 1914-1915, Ricardo Jorge publica os primeiros textos sobre Amato Lusitano (“Comentos à vida, obra e época de Amato Lusitano”) nos Arquivos de História da Medicina Portuguesa, escritos que produziu entre 1907 e 1909, sobre esse vulto quinhentista da medicina – João Rodrigues de Castelo Branco, cristão-novo, um homem do Renascimento que calcorreou a Europa, foi professor na Universidade de Ferrara, médico do Papa Júlio III, sendo depois perseguido pela Inquisição. Fragmentos do texto saíram noutras publicações, mas uma edição póstuma de 1962 agrega os vários textos num volume. Desenvolvido inicialmente como um comentário à biografia de Maximiano Lemos sobre Amato, o texto ganhou vida própria sobre o percurso peninsular do médico e sobre o seu papel precursor no estudo das drogas da Índia, recriando o ambiente quinhentista dos meios universitários e a situação dos “judeus portugueses”. Na conjuntura da Grande Guerra, Ricardo Jorge não foge aos seus deveres cívicos e de posicionamento da classe. Com a sua intervenção na Sociedade de Ciências Médicas de Lisboa, enquanto presidente, em 5.12.1914, intitulada A Guerra e o Pensamento Médico, acusa a Alemanha: com a história mostra a evolução clínica e sanitária da medicina perante a guerra e denuncia as doutrinas racistas de Gobineau e Houston Chamberlain adotadas nas teses da supremacia racial da Alemanha, uma “teutomania” que culminava no conflito militar, que condena, pois “a guerra é a arte de matar, a medicina a arte de viver”. |
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