| A | B | C | D | E | F | G | H | I | J | K | L | M | N | O | P | Q | R | S | T | U | V | W | X | Y | Z | Estrangeiros | |||||||||||||
SÁNCHEZ-ALBORNOZ Y MENDUIÑA, Claudio Madrid, 1893 – Ávila, 1984 |
|||||||||||||
No seu discurso de apresentação como embaixador, CSA quis sublinhar o seu apego pelo país. “Amo Portugal”, afirmou, “desde os anos já distantes da minha mocidade; sinto admiração pelos seus gestos heroicos, pelas suas letras gloriosas e pela sua arte esplêndida; corre sangue português nas veias dos meus filhos”. Noutras intervenções falou da unidade cultural entre as duas nações, do sentido de hispanidade partilhado pelos dois povos, da importância de colaborar académica e cientificamente. Visitou várias instituições, foi calorosamente recebido na Academia das Ciências e depositou uma coroa de flores no túmulo nos Jerónimos de Alexandre Herculano, por quem sentia grande admiração e em quem reconhecia as grandes virtudes de “inteligência, erudição e uma maravilhosa pena”. Nesta visita participaram também alguns investigadores do Instituto de Estudios Medievales que nessa altura estudavam a documentação preservada no arquivo da Torre do Tombo. O bom acolhimento de CSA nos ambientes intelectuais contrastava com a frialdade do governo, que direta ou indiretamente lançava mensagens agressivas contra Espanha, mesmo mantendo as formalidades. Este foi o enquadramento da entrevista do embaixador com Oliveira Salazar, no dia 13 de junho. O presidente do Conselho, de “boa estatura”, “rosto afeitado e pálido perfil semita” e “olhos claros não grandes que sorriem sem esforço e com frequência, e quase se fecham para melhor aprofundar no pensar íntimo do seu interlocutor, ou por qualquer defeito visual não corregido”, começou por estabelecer as duas condições para a presença em Portugal do representante do governo espanhol: respeitar a independência portuguesa e não interferir na “vida interior” de Portugal. Salazar mudou o tom da conversa depois de ouvir as palavras tranquilizadoras de CSA e, mesmo se insistiu na exigência de silenciar alguns sectores da política e da imprensa espanhola que transmitiam uma imagem negativa do regime português, passados alguns minutos apresentou-se como um cansado professor de Economia, enfraquecido pela insónia, que tinha assumido funções políticas por ser “bom administrador de um povo”. Contudo, a impressão que causou em CSA não foi positiva, e depois escreveria que tinha encontrado um ser solitário e austero, que acreditava num homem sem necessidades nem desejos, obsessivo com a poupança, aparentemente muito distanciado do “governante todo-poderoso” e, do seu ponto de vista, carente de qualquer “génio renovador”. A impressão intelectual foi, talvez, a mais negativa. CSA afirmaria ter ouvido apenas frases sem relevo do estudioso no con exceso talentudo.
|
|||||||||||||