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SÁNCHEZ-ALBORNOZ Y MENDUIÑA, Claudio Madrid, 1893 – Ávila, 1984 |
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A imensa obra de CSA caracteriza-se por uma escrita de grande qualidade que revela um excelente ‘contador de histórias’, pela variedade das temáticas analisadas num arco cronológico relativamente amplo – sobretudo porque, a partir das conclusões obtidas das suas investigações sobre o período medieval, elaborou teorias interpretativas que aplicou a épocas posteriores – e por um regresso constante a linhas de investigação que avançam ao longo dos seus trabalhos a partir de revisões recorrentes, com ideias reforçadas e questões em aberto; linhas desenvolvidas de maneira progressiva em estudos que visavam mergulhar nas dúvidas e criar pontos de referência num caminho construído passo a passo. Por este motivo, muitas das críticas às teorias de CSA, que frequentemente rebatem uma única afirmação ou um único trabalho, sem ter em conta o conjunto dos textos dedicados pelo autor à temática, nem sempre estão bem fundamentadas. Tal é o caso do papel central que o autor dava a Castela na construção da história de Espanha, observado por muitos como uma defesa do centralismo político, mas que realmente sublinhava o inegável peso dessa área geopolítica, de um ponto de vista ideológico, económico e – sobretudo – fiscal até ao século XIX. Um outro exemplo é a insistência na continuidade da ideia de ‘reconquista’ desde o século VIII até aos fins do século XV, que o próprio CSA matizou com a identificação de momentos de crise e com o reconhecimento das elites como principais impulsoras do fenómeno. Contudo, a mais polémica das teorias historiográficas de CSA, especialmente em Portugal, tem sido a do ‘despovoamento do vale do Douro’ e posterior ‘repovoação’ nos séculos que seguiram à invasão muçulmana. A ampla discussão sobre a ‘tese do ermamento’, nem sempre citada como foi formulada, tem gerado um dos conjuntos de estudos mais interessantes da historiografia ibérica do século XX. CSA regressou a Espanha, por apenas dois meses, no ano 1976. Encontrou um país muito diferente daquele que se tinha visto forçado a abandonar e, mesmo se nos anos seguintes recebeu muitos prémios e reconhecimentos, não se quis estabelecer de novo nele. Para aqueles que defendiam a ditadura era um republicano e para os contrários a ela uma personagem anacrónica, com ideias mais próximas à direita, extremamente conservador e muito ligado à Igreja. Os seus trabalhos tiveram um grande peso na historiografia dedicada ao estudo da Idade Média e alguns dos seus discípulos argentinos instalaram-se em Espanha, o que deu continuidade à sua escola. Contudo, e mesmo se uma fundação sedeada em Ávila contribuiu para a preservação do seu legado, uma parte substantiva da sua biblioteca e quase todos os seus alunos permaneceram em Argentina. Só no ano 1983, sob a pressão dos seus filhos e gravemente doente, regressou definitivamente. Morreu no verão de 1984, com noventa e um anos, e foi enterrado no claustro da sé de Ávila. Na lápide que cobre os seus restos está escrito ubi autem spiritus domini, ibi libertas (onde está o espírito do senhor, há liberdade).
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