Em AV, a exactidão e a imparcialidade eram aspectos da metodologia científica e notas caracterizadoras do seu carácter, timbrado por um espírito crítico vigoroso e persistente. As suas críticas não pouparam as instituições eclesiásticas, da inquisição aos cónegos de Santa Cruz ou da Sé, por exemplo, quando as encontrava a bloquearem injustamente o seu caminho da história, a do passado ou a do presente.

A História, ao tornar-se ciência, eliminou da sua narrativa «todos os ornamentos literários e os factos sem prova», como explicitava, em 1918, Frederick Teggart. AV assim havia procedido já em 1894, mas o seu estilo, «de uma secura que incomoda», foi desde logo criticado por J. Mendes dos Remédios, o qual considerava que o objecto de estudo impunha «a harmonia do rigor historico e da fórma artistico-verbal» («D. Isabel de Aragão», O Instituto, 41, 1894, p. 916-917). A crítica do jovem teólogo não desviou AV das suas concepções, continuando a considerar a história retórica como incapaz de se tornar científica. Cautelosamente, no entanto, ao publicar o opúsculo Real capela da Universidade (1908), advertiu, de entrada, que «não foi escrito com pretensões literárias». A crítica posterior considerou AV como «um mestre consumado da língua» (M. T. Salgueiro, «Discurso», 1936, p. 20) e, em 1996, o então presidente da ACL, ao reeditar Brás Garcia Mascarenhas, dava-lhe razão ao louvá-lo «pela limpidez da escrita e mesmo pela simplicidade do estilo, tão adequado aos estudos históricos» (p. VII)). Foi, com efeito, um conhecedor profundo da língua portuguesa, por onde começou antes de se tornar historiador.

Quanto «à secura que incomoda», T. Soares chamou já a atenção, por exemplo, para a forma concisa como AV descreveu a morte da Rainha Santa, tempo por onde começa a narrativa da «primeira tentativa histórica», dado que não encontrou documentado anteriormente o seu culto religioso. O «estilo seco», contudo, não se encontra em todos os escritos de Vasconcelos, muitos deles divulgados com rigor, simplicidade e encanto de linguagem. Atreveu-se mesmo a emitir juízos de valor, logo na sua primeira tentativa histórica, juízos éticos que mereceram reprovação em 1943, tempo de escrita da história sem valoração moral e sem adjectivos qualificativos na senda do neopositivismo, de que AV, felizmente, ficou imune, chegando a traçar quadros morais em voos de criação imagética..

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