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Simões, Alberto da Veiga | |||||||||||||
Em 1937, quando Veiga Simões representava já os interesses de Portugal em Berlim, os organizadores do I Congresso da História da Expansão Portuguesa no Mundo entenderam que ele não podia ficar arredado da iniciativa. Ou as suas reflexões. Deste convite resultaram dois importantíssimos estudos: “Portugal, o ouro, as descobertas e a criação do Estado capitalista” e “O Infante D. Henrique – o seu tempo e a sua acção”. Não obstante o primeiro título ter sido publicado após o segundo, o certo é que a sua redação é anterior. Donde, faz sentido que a ordem apresentada seja esta e não a da publicação de cada um. Os cinco anos que mediaram entre a conferência em Bruxelas e o presente desafio permitiram a Veiga Simões depurar ideias com as quais começara por se identificar, amadurecer teses antes somente afloradas e apresentar novas leituras para velhas questões. Desde logo, no que tocava à definição territorial do reino portucalense. Esta deixa de ser compreendida dentro duma moldura geográfica limitada, só podendo ser abrangida desde que analisada no vasto quadro europeu. «Portugal é assim o resultado de dois fatores simultâneos, um peninsular, outro de ordem geral: 1) a desagregação do império leonês nos cinco reinos peninsulares; 2) a reabertura do comércio a distância pelas cruzadas, que lhe deu assento à atividade económica e lhe moldou as diretrizes políticas» (Portugal…, 2004, p. 87). Os dois últimos séculos da Idade Média, na Europa, ficaram marcados pela «ânsia do ouro». O avanço muçulmano provocara a perda de contacto com as regiões auríferas do centro africano. A produção europeia mostrava-se escassa face à procura. No último terço do século XIV, a depressão económica que se abatera sobre o velho continente contagiava Portugal. Exatamente quando aqui se estava a formar a sociedade de Avis. «Assim, o problema português, nos começos do século XV assume três aspetos: carência de rendas para a nobreza por estreiteza das terras e impossibilidade de as fazer produzir mais; carência de território, em que o espírito neofeudal dessa nobreza se pudesse expandir; e, sobrelevando a tudo, o predomínio das cidades em que o rei, logicamente, apoiara a vida económica e social do reino; carência de instrumento monetário de troca a distância capaz de vivificar pela sua entrada na economia una a depressão em que ela sufocava e de restituir a essa economia forças próprias com que sobrelevar a crise» (Idem…, 2004, pp. 96 e 97). A ação política e económica do governo de D. João I vinha sendo tratada destacando figuras. Havia que despersonalizar a História. A nossa História. Não podíamos continuar a alhear-nos do «drama económico e social que ele tinha de dominar». Foi neste contexto que D. João I lançou os olhos para Ceuta. Porquê esta cidade? Em não pequena parte, por sugestão dos mercadores genoveses que viviam em Lisboa. Génova terá sido o mais decidido e o mais discreto aliado com o qual o rei pôde contar. «Ceuta era o termo de uma asfixia, o ponto de partida e o instrumento duma rota nova de riqueza, senão da própria riqueza. Todos se precipitaram messianicamente para a empresa, rei, infantes, mercadores, financeiros, nobres; e até o medieval Nun’Álvares» (Idem…, 2004, pp. 102 e 103). Os progressos alcançados pela História da Economia, nas primeiras décadas do século XX, permitiram a Veiga Simões ler com outros olhos a História dos séculos XIV e XV. Sombart, Simiand, Mitchell e Kondratiev foram apenas alguns dos muitos que o auxiliaram nessa (re)leitura. |
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