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Simões, Alberto da Veiga | |||||||||||||
No estudo dedicado ao Infante D. Henrique, Veiga Simões começa por desconstruir o retrato traçado por Gomes Eanes de Zurara, na Crónica da Guiné, reforçado depois pela Renascença, fosse através da historiografia, fosse através da epopeia. Para conhecermos verdadeiramente o Infante, havia que libertá-lo, quer do «primitivismo do seu cronista», quer dos «ouropéis humanistas que o ergueram a condutor dum século». Partindo do conceito de geração, mercê dos trabalhos de Wechssler e Pinder, é-nos explicado o caldo cultural no qual Zurara bebeu e que fez do Infante o «supremo coordenador do seu tempo». No fundo, o mesmo «homem isolado que a épica e a história de Quinhentos depois fundiram em bronze», transformando o século XV no «século do Infante». Também o seu propalado cruzadismo é posto em causa. Tal como o da própria nação. Ou da Península. Em suma: «Atribuir a nossa ação nas conquistas e descobertas ao espírito de cruzado do infante seria personalizar num póstumo soldado da fé a atividade dum povo. A ser assim, tudo seria obra do misticismo dum homem que o seu país cegamente seguia. Ora o país contava para alguma coisa. A ação do infante pôde mesmo realizar-se porque era nacional, e englobava afinal em si os interesses díspares das classes, da que representava a riqueza imóvel da terra e das que detinham a riqueza móvel do dinheiro e do tráfego» (O Infante D. Henrique…, 2004, p. 140). Neste trabalho, Veiga Simões procurou aprofundar de tal modo as suas teses, profusamente acompanhadas por detalhadas notas de rodapé, reveladoras da vastíssima bibliografia de que se socorrera, nacional e estrangeira, desde os títulos mais tradicionais e consensuais aos mais recentes e originais, que o número de páginas ultrapassou em muito o espaço que a Direção da História da Expansão Portuguesa no Mundo lhe destinara. Por esta razão, a última parte, nomeadamente os parágrafos dedicados ao papel do Infante D. Pedro nos Descobrimentos, teve que ser resumida. Quando, em setembro de 1428, o duque de Coimbra regressa a Portugal, depois de percorrer a Europa, viria outro. Partira «um grande senhor medieval», retornava «um homem moderno». Opondo-se à prossecução da política de conquista do Norte de África, preconizava a da busca do ouro e do tráfego. De modo a que os navios, ao avançarem sobre a costa, de lá trouxessem a mão de obra de que as terras precisavam, o metal por todos tão cobiçado, as especiarias que o continente oferecia e, finalmente, «cumprindo o périplo de África», pudessem atingir a Índia por mar. Ou seja, exatamente o rumo que as nossas caravelas tomaram. Comparativamente: «O regente era o homem que abandonara atrás de si a armadura medieval com que partira do reino e vestira o gibão moderno. D. Henrique era o cavaleiro que, sem desafivelar a cota de malha, dormindo com ela, como um cilício, se vestira de mercador e mareante, pronto a deixar cair a veste quando dela não carecesse para si e sua gente, ressurgindo vestido de aço, a lança ao alto, o ginete axadrezado para o grande torneio com o moderníssimo» (O Infante D. Henrique…, 2004, p. 164). Em conclusão: «O Mago perscrutador do Outono da Idade Média, Huizinga, formulou esta regra: neste tempo, mais do que em nenhum outro, os grandes acontecimentos históricos não resultam da vontade dos homens, nem são por eles preparados. Homem da velha meia-idade, amando-a e visionando o regresso a ela, o Infante D. Henrique foi, afinal, sem o querer, um dos maiores construtores do mundo moderno» (Ibidem). |
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