Inicialmente assumida como uma “revista quinzenal, ilustrada de literatura e crítica” e, a partir da segunda série, como uma “revista mensal de Literatura, Arte, Ciência, Filosofia e Crítica Social”, a Águia é passível de ser analisada a partir de diferentes perspectivas, incluindo a historiográfica. Para além de constituir uma fonte privilegiada para o estudo da produção artístico-cultural portuguesa, sobretudo no que respeita à vertente literária, esta publicação multidisciplinar permite ainda aprofundar conhecimentos sobre figuras maiores do pensamento português contemporâneo, tais como Teixeira de Pascoaes, Leonardo Coimbra ou António Sérgio, que de distintas formas interpretaram o passado e o porvir português.
Publicada entre 1 de Dezembro de 1910 e Maio/Junho de 1932, a Águia conheceu cinco séries. Se da primeira série, dirigida por Álvaro Pinto, saíram dez números (Dezembro de 1910-Julho de 1911), a segunda, a mais relevante, que teve em Teixeira de Pascoaes o seu director, publicou-se entre Janeiro de 1912 e Outubro de 1921, num total de cento e vinte números. Da terceira série (1922-1927), dirigida por Leonardo Coimbra, fizeram parte sessenta números. A quarta série compôs-se de doze números (Janeiro de 1928-Dezembro de 1929) e conheceu diferentes directores (Hernâni Cidade, Leonardo Coimbra, Teixeira Rego e António Carneiro). Existiu ainda uma fugaz quinta série (Janeiro-Junho de 1932), que recebeu os esforços directivos de Leonardo Coimbra, Sant’Anna Dionísio e, a partir do segundo número, Aarão de Lacerda e Delfim Santos. Este periódico de orientação republicana teve entre as suas principais ambições contribuir para a construção de um Portugal renovado. Até Julho de 1911, dedicado ao poeta António Nobre, a Águia, que ainda não se tornara órgão da Renascença Portuguesa, distinguiu-se pela divulgação de poesia e prosa portuguesa inédita, assim como de textos de crítica literária que ajudam a delinear um mapa do panorama literário de então.
A atestar que os interesses da revista extravasavam o que se produzia no país está a constatação de que, ao longo dos dez números que compõem a primeira série, não rarearam artigos versando sobre temáticas artístico-literárias estrangeiras. Logo no nº 2, saíam textos de Veiga Simões, Teixeira de Pascoaes e Sampaio Bruno dedicados ao recém-falecido Tolstói. No número seguinte, de Janeiro de 1911, em que Miguel de Unamuno iniciou a sua colaboração com a revista, Sampaio Bruno assinava um ensaio acerca da recepção de Galileu em Portugal.