Resumindo as duas perspectivas (aparentemente antagónicas) que levariam ao renascimento de Portugal, se para Teixeira de Pascoaes importava despertar a consciência popular para o sentido e o valor do ser português, mergulhando nas antigas tradições que engrandeciam a obra da raça lusíada (sem deixar de lado o moderno espírito europeu), para intelectuais mais racionalistas como Proença ou António Sérgio, que encaravam o movimento da Renascença como sinónimo de modernização através de uma pedagogia cívica e que viam como prioritária a formação de uma elite empenhada em preparar uma opinião pública participativa, era crucial aderir a ideias postas em prática no estrangeiro, que contribuíssem para uma renascença que começaria por ser económica, política e social, antes de espiritual (Teixeira de Pascoaes na revista A Águia, p. 29).
Não obstante a heterogeneidade temática, a multidisciplinaridade e até as divergências que intelectualmente afastaram colaboradores da revista, encontra-se uma forma de olhar ou de interpretar a história que, não tendo sido consensual, como se atesta pela leitura dos escritos de António Sérgio, foi partilhada por diferentes autores da Águia. Começando por aludir a um ensaio de Jaime Cortesão intitulado “A Renascença e a História Pátria”, verifica-se que, contra uma história de factos e de datas e professando a ideia de que os estudos históricos constituíam uma expressão de patriotismo, o historiador e poeta considerava fundamental que se aproveitasse a onda de energia e progresso, trazida por uma República que resgatara a “alma pátria” do coma, para proceder ao ensino do “Espírito Lusitano” nas escolas primárias e secundárias (e também fora das escolas) e assim colaborar para a nacionalização cultural dos portugueses. Esse “Espírito” remetia para os Descobrimentos e consubstanciava-se na acção do “Povo” na história, no esforço dos humildes e na glória dos heróis. Confessando-se influenciado pela História da Civilização Ibérica (1879), de Oliveira Martins, enaltecia os feitos heroicos dos portugueses, o génio nacional e procurava analisar a evolução dos grandes traços civilizacionais nacionais, pelo menos desde a Expansão até à decadência presente (Águia, nº 9, Setembro de 1912). Num outro artigo, reforçando a convicção de que a história deveria exprimir um sentimento patriótico, Cortesão invocaria Oliveira Martins, o “historiador do génio”, para reafirmar a importância do misticismo, do heroísmo e do sentimento de independência pessoal na definição da nacionalidade portuguesa (“Da Renascença Portuguesa e seus intuitos”, Idem, nº 10, Outubro de 1912, p. 122).