Para não multiplicar os exemplos, no sexto número, se Pascoaes dava à estampa um artigo sobre Victor Hugo, Reis Machado dedicava-se ao tema “Fichte e o Renascimento Alemão”.
É relevante realçar que desde o primeiro número da Águia sobressaiu o interesse por temas envolvendo a justiça social e a educação popular. Para avivar esse interesse deveras deve ter contribuído a revolução republicana, que trouxe a diversos colaboradores da revista uma esperança de mudança política propiciadora de uma substancial melhoria das condições de vida da população. No primeiro número, de Dezembro de 1910, Teixeira de Pascoaes, numa coluna justamente intitulada “Justiça Social”, discorria sobre a precária situação dos lavradores caseiros, enquanto Leonardo Coimbra realçava o papel social da educação e Raul Proença, problematizava o papel social da arte. Já no segundo número, Ângelo Vaz reflectia sobre as crianças e a República, defendendo que o grau de civilização de uma sociedade moderna se avaliava pelos cuidados dedicados às crianças desfavorecidas (e que era esse trabalho que o Portugal republicano tinha por missão desenvolver). Por fim, no quinto número, de 1 de Fevereiro de 1911, o citado Leonardo Coimbra focava-se no problema da educação, ao alertar que urgia munir os portugueses, atrasados em tantos aspectos, da mais profunda riqueza espiritual, o saber. A maioria dos colaboradores da primeira série da Águia apelava à mobilização dos artistas e dos intelectuais na crença de que a arte era um exercício segundo o qual era possível pôr em prática uma educação em liberdade. Por outro lado, acreditava-se que a difusão das artes constituía uma estratégia da solidariedade e coesão social e nacional (Norberto Cunha, “A Génese da Renascença Portuguesa perante a crise política e moral da I República”, Crises em Portugal nos século XIX e XX, p. 160).
A partir do momento em que se tornou órgão da Renascença Portuguesa, cresceu nas páginas da Águia uma preocupação no que concernia à transformação do país a nível tanto a nível moral, intelectual e espiritual, como material e económico. Havia na origem da Renascença Portuguesa o sentimento de que a República carecia de “conteúdo renovador e fecundo” (Pinharanda Gomes, A Renascença Portuguesa - Teixeira Rego, p. 17).