No lançamento da segunda série, em Janeiro de 1912, Pascoaes traçava o rumo desta revista que passara a dirigir (abandonaria a direcção em 1917, e desde essa altura que a publicação declinou em termos de substância e conteúdo), salientando que se procurava um sentido para as energias intelectuais da raça portuguesa, “criar um novo Portugal, ou melhor ressuscitar a pátria portuguesa” (“Renascença”, Águia, II série, nº 1, Janeiro, 1912, pp. 1-3). O trabalho renovador a que se propôs a Renascença não se resumiu à dinamização de periódicos como a Águia ou a Vida Portuguesa (que existiu entre 1912-1915 e teve como director Jaime Cortesão). Promoveu-se igualmente a cultura do povo português (entre operários e comerciantes, por exemplo) não só através de um intenso trabalho editorial (que resultou na publicação de perto de três centenas de obras), como da dinamização das chamadas universidades populares, de conferências e de sessões de leitura que tiveram lugar em várias regiões do país.
Na Águia encontrou Teixeira de Pascoaes um espaço privilegiado para dar expressão ao ideal saudosista. Caracterizada pelo poeta amarantino como personalidade eterna da raça e como renascença pelo instinto emotivo do povo, a Saudade, conceito metafísico, filosófico e político que expressava a alma lusitana, visava a regeneração de um país decadente, o regresso ao esplendor, o fortalecimento da nacionalidade portuguesa que retomaria o espírito dos Descobrimentos (O Espírito Lusitano ou o Saudosismo, 1912.). Fomentando a educação popular e a justiça social, contra influências estrangeiras, contrárias ao carácter étnico português, pugnava Pascoaes por uma restauração nacional de cariz moral e espiritual (“Ao Povo Português – A Renascença Portuguesa”, Vida Portuguesa, nº 22, 10/2/1914, pp. 10-12). Pascoaes não só julgava que a pátria era um ser espiritual, como acreditava que Portugal só seria livre enquanto fosse genuinamente português, como nos Descobrimentos, época histórica marcada pela coragem dos lusitanos. Portanto, de modo a recuperar a identidade nacional, havia que reforçar o culto das origens, cimentar o ensino da história de Portugal e o apego à ruralidade. Afirmando uma ideia messiânica do destino, o poeta sobrepunha a fé e a vontade aos critérios de racionalidade (Norberto Cunha, “A Génese da Renascença Portuguesa perante a crise política e moral da I República”, p. 164). Conquanto o papel de Pascoaes nesta revista tenha sido preponderante, sublinhe-se que outros autores ligados à Renascença se focaram em formas de restauração ou renovação nacional que, não desvalorizando as questões do espírito ou da alma, privilegiavam o desenvolvimento material.