Patenteando uma convivência de orientações culturais e cívicas diversas, a polémica travada entre Pascoaes e António Sérgio, numa série de artigos publicados entre Outubro de 1912 e Julho de 1914 na Águia, ajuda a compreender os alicerces histórico-filosóficos da Renascença e da própria revista. António Sérgio, que repudiava as “frases humanamente inexplicáveis” e o sentido poético e até “absurdo” da filosofia de Pascoaes (“Regeneração e tradição moral e económica”, Águia, II série, nº 25, Janeiro de 1914, p. 7), enfrentava os problemas nacionais de acordo com modelos mais racionalistas. Reconhecia que as causas da decadência portuguesa eram morais e que se deveria privilegiar a educação, mas defendia uma educação científico-técnica, uma educação capaz de fomentar o progresso. Asseverava que o progresso moral dependia do progresso económico, da capacidade revelada por um país de se industrializar ou de reformar sectores fundamentais como o agrícola.
Como Raul Proença, que também nas páginas da Águia enfatizou a urgência de pôr a sociedade portuguesa em contacto com o mundo moderno, com o que de mais importante sucedia no estrangeiro, continuava António Sérgio, alguns anos depois, a apostar na indispensabilidade de imitar países desenvolvidos como a Inglaterra ou a Alemanha, isto se fosse desejo dos portugueses combater o seu isolamento cultural ou a “ignorância geral do espírito” (“Alguns capítulos da legislação agrária do Reino Unido que convém conhecer em Portugal”, Idem, nº 88-90, Abril-Junho de 1919, pp. 148-155). De acordo com a perspectiva de António Sérgio, contrária à de Pascoaes (e de alguns dos principais nomes da Renascença, como Cortesão), a desejada regeneração nacional não adviria da invocação histórica ou da redescoberta da “alma lusitana”, uma vez que não eram as energias do passado que suscitavam as do presente (“Regeneração e tradição, moral e economia”, Idem, nº 25, Janeiro de 1914, p. 6). Mesmo no que respeitava ao ensino da história, opunha-se ao historicismo e ao nacionalismo de prestígio dominante em Portugal, como se o passado fosse um entrave ao progresso, e fazia a apologia de uma disciplina histórica educadora das faculdades críticas, mas não apologética (Sérgio Campos Matos, “A Renascença Portuguesa - consciência histórica e intervenção cívica: 1911-1914”). Outros colaboradores da revista, como o engenheiro Ezequiel de Campos, que integrou a Seara Nova desde a sua fundação, perfilharam estas teses. Ezequiel de Campos conceberia inclusive Pela Espanha, obra publicada em 1916 pela Renascença com o objectivo de frisar a ideia de que o país, em tantos aspectos atrasado, tinha tudo a aprender com os espanhóis, particularmente na forma de organizar o trabalho.