A 5 de Julho de 1935, a Direcção do Instituto de Arqueologia, História e Etnografia (IAHE) reunia-se para aprovar os estatutos de uma revista científica sua sufragânea, cuja existência estava já prevista em 1933 (decreto nº 22.338, de 13 de Março, fundador do Instituto). Por sugestão de uma das suas principais figuras, Manuel Heleno Júnior, foi decidido atribuir-se-lhe o nome de Ethnos, mote grego que significa “cultura” ou “raça”, estando, portanto, em consonância semântica com a proposta científica do IAHE.O director do Museu Etnológico do Dr. Leite de Vasconcelos, o referido Manuel Heleno, reclama como sua a sugestão do nome na secção Varia do número inaugural de 1935, referindo também que a revista viera a lume somente 3 anos após a fundação do instituto, mercê dos constrangimentos resultantes da dependência de financiamento exclusivamente proveniente das quotizações dos sócios do Instituto. Relembra, por fim, a prioridade da revista portuguesa na assunção do nome Ethnos por oposição a um periódico homónimo, entretanto surgido em Estocolmo.
Era o início de uma revista ligada a duas das instituições científicas mais marcantes do século XX português: a Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (fundada em 1911) e o Museu Etnológico (1893), posteriormente Museu Etnológico do Dr. Leite de Vasconcelos (actualmente Museu Nacional de Arqueologia). Pertencendo desde 1913 à Faculdade, o Museu seria a base de construção do percurso intelectual e cívico de José Leite de Vasconcelos, figura tutelar da Etnografia e da Arqueologia portuguesas, bem como do seu sucessor Manuel Heleno Júnior. A Etnografia e a Arqueologia conheceram grandes desenvolvimentos neste caldo de permutabilidade institucional, sem o qual a génese da Ethnos perde muito do seu significado coevo.
A criação do IAHE e a concomitante publicação da Ethnos ligam-se pois à história interna da disciplina da Arqueologia e do seu posicionamento político no seio do quadro salazarista, indissociavelmente ligada como estava ao do segundo director do Museu Etnológico. Começando pelo segundo ponto, a verdade é que, se Leite de Vasconcelos sempre se mostrou notoriamente alheado das polémicas políticas do seu tempo e sobreviveu sem sobressaltos às mudanças de regime ao longo do primeiro quartel do século XX, Manuel Heleno menciona programaticamente (na secção Varia do número de 1935) as "tentativas de espoliação das glórias nacionais levadas a efeito por certos sábios estrangeiros" no sentido de desvirtuarem a "evidência [d]o papel de Portugal no descobrimento da Terra, na criação de novas nações, em resumo, [n]a acção de Portugal na História da Civilização”.