Deste modo, cerca de 88% da produção científica total da revista foi consagrada à Arqueologia, História e à Etnografia, estando os restantes 12% reservados à Filologia, História de Arte, Literatura, Metodologia da História e aos Memoriais, donde se conclui uma coerência notável para com as áreas temáticas centrais do Instituto do qual a revista é uma emanação.
Merecem referência os artigos de temática arqueológica, histórica e etnográfica. Fundamentalmente fiéis à escola arqueológica histórico-cultural, quase toda a produção se dedica à inventariação sistemática de achados resultantes de expedições realizadas sobretudo sob a égide do Museu Etnológico e de definir, com base na cultura material em análise, as pertenças étnicas e culturais das populações que a mantinham. Tal quadrava bem com a determinação de Manuel Heleno em considerar a nacionalidade portuguesa perfeitamente definida “desde os tempos da pedra polida” (Carlos Valentim, Idem). Mesmo quando se referem a assuntos específicos como o Megalitismo ou a época romana, e ainda que se detalhe criteriosamente a metodologia empregue, bem como a descrição exacta das peças escavadas, o referencial nacionalista, prenúncio da identidade nacional portuguesa, é uma omnipresença.
Esta escola ligava-se, de igual modo, ao legado de Leite de Vasconcelos, em particular à sua obra Religiões da Lusitânia, que pretende instaurar a mundividência deste povo como uma das traves-mestras da identidade portuguesa (João Afonso Corte-Real, “Lusitanidade de Évora”, Ethnos, vol. 7, 1970, pp. 215-244). Legado caracteristicamente oitocentista, que inscreve o acontecido no absolutamente insuspeitado, longinquamente relacionado com o darwinismo social e a ressalva “histórica” da pura autenticidade nacional, poderosos instrumentos de legitimação dos emergentes Estados-Nação.
No contexto histórico do Estado Novo, em que a exaltação das glórias pátrias se encontrava na ordem do dia, o desvelar das pretensas raízes da Nação, sobretudo acobertada numa exposição tecnicamente irrepreensível e, por consequência, cientificamente credível, preencheria os desígnios políticos do dinamizador fundamental do periódico e dos seus apaniguados, muitos deles sócios do IAHE.