Em termos de cronologia, o primeiro tomo da RPH definia o que haveria de constituir uma das suas marcas identitárias até à década de 70: o estudo da Idade Média, área de especialidade da maioria dos membros do Instituto de Estudos Históricos e de, forma particular, de Torquato de Sousa Soares, alma impulsionadora da RPH até aos anos setenta.
O tomo III da RPH, editado em 1947, num contexto de euforia decorrente do final da segunda guerra mundial, parecia indiciar um alargamento temático, expresso, de forma particular, na Miscelânea, que acolheu quatro artigos de história económica: dois escritos por Virgínia Rau e outros dois de autoria de Julião Soares de Azevedo. O indicador mais expressivo de que chegavam, então, a Coimbra os novos rumos que a historiografia francesa trilhava, desde 1929, atesta-se no texto emocionado, e muito informado sobre a personalidade e a obra de Marc Bloch, que Torquato de Sousa Soares, “espírito aberto às novas correntes historiográficas” (António de Oliveira), escreveu para o referido tomo, do qual constam os extractos que a seguir se transcrevem: “Assassinado no dia 16 de Junho de 1944 por um inimigo implacável, que não soube respeitar a sua situação de prisioneiro, Marc Bloch, que contava então 58 anos, deixou uma obra que, sem ser extraordinariamente extensa, abre como um clarão, novas perspectivas à História, substituindo o velho conceito de ciência do passado pelo de ciência do homem, ou melhor dos homens – dos homens no tempo – ciência que não decompõe o homem em funções separadas, mas que o mete inteiramente em si próprio”.
Reportando-se ao livro Apologie pour l’histoire ou Métier d’historien classifica-o como “breve estudo de metodologia histórica”, que reflecte a visão do historiador, sendo “em grande parte um programa de trabalho para os jovens historiadores” e expressão de “um homem que vive a História não como um antiquário que se satisfaz do que envelheceu e acabou, mas como um verdadeiro historiador cuja qualidade fundamental é a apreensão do que é vivo, do que, como tal, continua”.