Um periódico como O Tripeiro destaca-se pelas suas muitas singularidades no mercado editorial português entre as publicações consagradas à História. Mesmo não se podendo classificar integralmente como título de domínio historiográfico, aliás concebido e coexistindo à margem dos meios académicos institucionais, a sua missão original foi sendo acolhida e preservada pelos historiadores, curiosos e o público em geral assegurando o feito raro de comemorar o centenário da sua marca. Entre a sua fundação em 1908 até 1974, longevidade com naturais interregnos e mudanças de diretores que procuraram manter uma mesma matriz identitária, contabilizam-se 6 séries, de 36 anos, 508 números e mais de 11 mil páginas, que o certificam como um dos melhores exemplos de uma divulgação atrativa e transversal da historiografia portuguesa entre a fixação da memória coletiva e a erudição científica.
Desde o primeiro número idealizado como «repositório de notícias portucalenses antigas e modernas» perpetuador da vida cultural, patrimonial, social e da história da cidade do Porto, tal reduto ainda que preferencial nunca se transformou em enclausuramento, quer na transfiguração de jornal em revista, quer por uma certa compleição enciclopédica, constituindo-se como um legado imprescindível e de alto valor enquanto uma das mais completas fontes históricas sobre a Invicta e as suas gentes. Além de conceder espaço a entradas relativas dos concelhos limítrofes até à amplitude da própria região norte, soube também fomentar uma feliz convergência de artigos jornalísticos e académicos sobre o passado, o presente e até reflexões para o futuro em temáticas diversificadas da História, Arqueologia, Etnografia, História da Arte e Sociologia.
Alfredo Ferreira de Faria (1867-1930) foi o impulsionador do periódico com tais características patenteadas logo na 1.ª série, recobrando o título a outra efémera publicação local, proprietário e diretor do novo O Tripeiro: repositorio de noticias portucalenses, jornal trimestral cujo ano I (1908-1909) compreende 36 fascículos e prontamente alcançou uma comercialização nacional. O próprio fundador era o principal subscritor da maioria dos artigos, por vezes simples transcrições de notícias na imprensa e de livros de historiadores ou literatos coevos e perecidos, contando-se como redatores mais assíduos: Alberto Bessa, J. Gomes de Macedo, Pedro Victorino, Alberto Pimentel ou Silva Leal.