No seu conjunto a vitalidade e sucesso de o periódico O Tripeiro explicam-se pela reunião de diferentes cambiantes: o arquivo de um corpus documental valioso, a representação do universo portuense e nortenho, a heterogeneidade de valências intelectuais e epistemológicas dos seus colaboradores, a linguagem despretensiosa e apelativa aos diferentes segmentos sociais, a riqueza temática e iconográfica dos assuntos analisados ou o fecundo diálogo de experiências e conhecimentos estabelecido entre redatores, autores e leitores. Dentro das suas muitas idiossincrasias não é fácil identificar as grandes linhas historiográficas num periódico que não as estimulava necessariamente e que em centenas de números os principais temas e problemas tratados eram quase sempre percecionados num contexto de história local e regional: a fundação da nacionalidade, ascensão da burguesia mercantil, expansão marítima, domínio filipino, movimento liberal ou fomento industrial oitocentista, etc.; dando total liberdade a cada autor nas suas exposições, linhas de investigação e conclusões sem suscitar necessariamente grandes debates ou análises contundentes. Tão pouco estabeleceu-se qualquer vínculo cooperativo formal com nenhuma das duas Faculdades de Letras do Porto que detinham as suas próprias revistas para as ciências históricas, exceto na assinatura pontual de alguns artigos por professores e alunos, embora no seu interregno através do Centro de Estudos Humanísticos aparente terem existido mais sinergias através dos seminários de investigação do seu curso de “Estudos Portuenses”. Título notável e ímpar pela sua missão editorial e iniciativa privada, a sua relevância justifica-se nas palavras de uma circular de 1928: «O Tripeiro é a Bíblia dos Portuenses, é o fio condutor da era presente aos tempos mais remotos, revelando ensinamentos sempre proveitosos».
Bibliografia activa:O Tripeiro: repositorio de noticias portucalenses: 1.ª série, ano I, n.º 1-36 (1908-1909); ano II, n.º 37-62 (1909-1910); ano III, n.º 73-108 (1910-1913). 2.ª série, ano I, n.º 1-12 (1919). 3.ª série, n.º único (1925); ano I, n.º 1-24 (1926) ano II, n.º 25-48 (1927), n.º especial 49 (1928) e 50 (1930). 4.ª série, n.º 1-12 (1930-1931). O Tripeiro: revista mensal de divulgação e cultura, ao serviço da cidade e do seu progresso: 5.ª série, anos I-XV, n.º 1-12 (1945-1960). O Tripeiro: revista mensal de divulgação e cultura, ao serviço da cidade e das suas tradições: 6.ª série, anos I-XIII, n.º 1-12 (1961-1972); n.º especial ano XIII (1973) e XIV (1974).
Bibliografia passiva: Carmo Ferreira, M., Índice Geral de O Tripeiro: Junho de 1908-Dezembro de 2006. Porto, Campo das Letras, 2007. Real, Manuel Luís; Braga, Helena Gil; Botelho, Nuno; Vaz, Paulo, Aconteceu há 100 anos: O Tripeiro(catálogo da exposição). Porto, Câmara Municipal do Porto, 2008.