De famílias abastadas, era filho de Manuel Telles Barradas de Carvalho, latifundiário alentejano e monárquico, romancista de pequena obra mas de mérito; um seu tio, general José Marques Godinho (1881-1947), herói da I Grande Guerra, esteve implicado numa tentativa de golpe contra Salazar em 1947. Sempre apoiado pelos pais, apesar de “filho bem pouco cómodo” (As fontes…,1968, p. 9), licenciou-se em Ciências Histórico-Filosóficas pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (1946), tendo sido colega de Joel Serrão, Rui Grácio e Jorge de Macedo, entre outros.

Desde jovem estudante aderiu ao Partido Comunista e tomou parte em movimentos oposicionistas, o que lhe valeu o impedimento de ser contratado para um lugar no ensino público português durante a ditadura. Porque, como era evidente, JBC não oferecia “garantias de cooperar na realização dos fins superiores do Estado”, reza a informação da PIDE (Tiago Brandão, “Migração científica…”, 2011).

Quando em 1961 o Ministério da Educação decidiu abrir uma Faculdade de Letras na Universidade do Porto, a JBC (como a Joel Serrão e a João Bénard de Costa) impossibilitaram concorrer a lugar de encarregado de curso – fizeram desaparecer os documentos de candidatura não fosse o júri escolher algum réprobo... Havia que escolher gente de confiança – não por acaso seria aprovado António Cruz, conhecido militante salazarista, que viria a ser catedrático e director dessa Faculdade (O obscurantismo…, 1974, pp. 25-26 e 82). Para o regime não contavam apenas as depurações de professores, havia que contar também com o impedimento que se levantava à entrada de gente capaz para funções docentes, em especial no ensino universitário. Tentando escapar a esse ambiente, JBC teve que se expatriar (e depois do ataque ao quartel de Beja na noite de passagem do ano de 1961/1962 em que esteve implicado, exilar-se). Exílio para evitar a inevitável perseguição e a cadeia. Daí que a sua trajectória académica tenha sido feita através da França onde foi bolseiro do Ministério dos Negócios Estrangeiros francês, depois da Fundação Calouste Gulbenkian e da Association Marc Bloch e investigador do Centre National de la Recherche Scientifique. Apresentou-se a provas de doutoramento de 3º Ciclo (1961) e de Estado (1975) na Universidade de Paris tendo as teses apresentadas obtido as mais altas classificações. A sua preparação de investigador fora feita em contacto próximo com Fernand Braudel na 6ª Secção (Ciências Sociais) da École Pratique des Hautes Études, mas não menos na 4ª Secção (Ciências Históricas e Filológicas) onde se encontravam os mestres dos métodos eruditos.

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