Depois de uma dissertação de licenciatura sobre as ideias políticas e sociais de Alexandre Herculano virou-se para o estudo da cultura portuguesa no período renascentista influenciado pelos seminários em Paris de Fernando Braudel e Georges Friedmann. A pessoa e a obra de Lucien Febvre marcaram-no, declarando-se o seu fascínio perante a obra-prima Le problème de l’incroyance au XVIe siècle. La réligion de Rabelais (1942). E é a investigação em história das mentalidades no quadro da unidade plural das ciências humanas que bebe nos Annales e nos mestres parisienses. Para se dedicar ao “que de mais original produziu até hoje a cultura portuguesa.” (Rumo de Portugal…, p. 36). Em 1953 a viragem estava executada, e nos Annales e na Revista de História da USP já publica artigos versando essa matéria.

Pelo fascínio que sobre ele exerceu a literatura de viagens e a literatura científica que se lhe associa ligadas aos descobrimentos tomou como centro dos seus trabalhos o manuscrito do Esmeraldo de situ orbis de Duarte Pacheco Pereira. Nessa temática sobre um texto complexo e muito rico se concentrará, dedicando-se-lhe durante anos a fio, perscrutando aquilo a que designou por “pré-história da mentalidade e do pensamento moderno.” (Portugal e as origens…, 1981, p. 211). Porque não há que procurar os precursores de Descartes e Galileu nos humanistas que escreveram textos filosóficos – agarrados que permanecem aos Antigos. Porque “subjacente aos grandes filósofos ou homens de ciência, podemos surpreender uma história mental mais profunda. Uma ruptura como a do século XVII foi preparada em profundidade desde muito antes por homens que dela foram os autores inconscientes.” (Portugal e as origens…, p. 49) E a pesquisa dessa pré-história incide sobre os dez primeiros textos de literatura de viagens que se conhecem. Desde a Crónica dos feitos de Guiné de Gomes Eanes de Zurara, de 1453, até 1505-1508 ao Esmeraldo de situ orbis de Duarte Pacheco Pereira. Passa então em revista essa dezena de Crónicas, Descrições de terras, Diários de bordo ou Roteiros.

Uma das pesquisas que empreende liga-se com a expressa menção de números em algarismos árabes e sua confrontação com a persistência de numeração luso-romana. Inovação de aceitação progressiva que conclui manifestar “uma nova cultura” que “não era mais tradicional”. Que não se fica pela constatação. Havia que interpretar, dado que ocorre “no meio cultural de grupos profissionais directamente ligados ao desabrochar de uma classe social. Que depois se generaliza a todos os grupos profissionais, em todas as classes sociais.” (Portugal e as origens…, p. 72).

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