Já em 1920 denunciava as “quimeras da união ibérica” e defendia o princípio da autonomia reivindicada por parte da tradição historiográfica portuguesa, ao consagrar um artigo à obra do historiador Fidelino de Figueiredo. (“Le mouvement intellectuel en Portugal. Une orientation nouvelle des études historiques au Portugal: M. Fidelino de Figueiredo”, Bulletin Hispanique, t. 22, n°2, 1920. pp. 101-113).

Estudioso e professor dedicado, Georges Le Gentil é autor de uma obra importante, tanto pela quantidade de estudos publicados quanto pela notoriedade da sua obra nos estudos portugueses. Assumindo o papel de primeiro promotor da língua e da cultura portuguesa na França, é autor de uma obra de uma amplidão temática e histórica notável. Historiador da literatura, crítico literário, tradutor e lusófilo renomado, aplicou nos seus estudos histórico-literários um método científico novo, inspirado na obra de Gustave Lanson (1857-1934), professor de literatura francesa na Sorbonne e na École normale supérieure. Aluno de Brunetière, Lanson imprimira a sua marca nos estudos literários do fim do século XIX e início do século XX, quando descarta a crítica impressionista e introduz rigor, método e erudição no estudo dos factos literários, através de uma atenção inédita em relação ao contexto histórico de produção e difusão dos textos. (A. Vaillant, L’Histoire littéraire, 2012, pp. 77-98).

Nota-se grande similitude entre a obra de Lanson e a de Georges Le Gentil: ambos escreveram edições críticas de obras literárias, monografias sobre autores e compêndios de história da literatura. Talvez seja a sua reavaliação da obra de Fernão Mendes Pinto que reflecte melhor o método de Le Gentil, ao propor uma análise inédita da obra do autor português assente numa dupla dimensão literária e histórica. A primeira parte biográfica do livro é completada por um estudo do valor literário da obra de Fernão Mendes Pinto, retratado como “homem de letras”, precursor do exotismo na tradição literária portuguesa, após ter feito a demonstração do carácter romanesco (e não autobiográfico) da famosa Peregrinação publicada em Lisboa em 1614 (Fernão Mendes Pinto. Un précurseur de l’exotisme au XVIe siècle, 1947). Outra vertente determinante deste método novo é a necessidade de realçar as múltiplas conexões e circulações que permitem afirmar a importância de Portugal, país pequeno e periférico no continente europeu. Assim, o seu estudo da obra de Oliveira Martins permite sublinhar a dimensão conectada de uma obra política, histórica e filosófica que dialoga com as correntes maiores do pensamento da Europa ocidental da segunda metade do século XIX.

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