Se as teses de Sardinha abriam violenta reação intelectual contra o espírito universitário liberal e a crescente descristianização e laicização da própria sociedade portuguesa, as instituições universitárias cedo lhe obstaram qualquer pretensão à docência, o que mais radicalizou o anátema do polígrafo contra o ideal humanitário, pacifista e racionalista que as animavam.

Foi muito contestada contudo, logo por Raul Proença nas páginas da Seara Nova, a originalidade destas teses. A influência decisiva, na fase embrionária, convergente com o pensamento contra-revolucionário (De Bonald, J. de Maistre, Gama e Castro, marquês de Penalva, visconde de Santarém) deve buscar-se na Action Française, o movimento liderado por Charles Maurras, e o seu programa do Retour à la terre (Jules Méline), que adjudicava, nessa barresiana desconfiança radical da cidade que perverte as virtudes ancestrais do «povo» rural, o anátema fundamentalista sobre a «decadente» e «pornográfica» literatura urbana e cosmopolita, fruto das instituições de instrução e das políticas liberais e representativas da III República francesa, da qual seria a correlata expressão estética e artística. Como antídoto lançava o tema da regeneração da «raça», que o darwinismo social com tanta eficácia explorava, tão caro ao racismo nacionalista que delata no anonimato de uma sociedade de homens «artificiais» a rotura com o pacto divino e nele com as raízes católicas e ultramontanas, evidenciando um obcecado ódio de estimação ao semitismo e a todos aqueles que lhe infundiam pavor, tal o como protestantismo ou a franco-maçonaria, tida como toda-poderosa arquiteta do sistema constitucional – “Ontem o Liberalismo, hoje a Democracia, não são senão as fachadas de um poder oculto que, no subsolo da política, a manobra a seu belo prazer” (Ao ritmo da ampulheta, 1925; 50).

Nesta via AS tornou-se um dos autores mais lidos e comentados nos fóruns da direita antiliberal e antijacobina: “a história de Portugal, nos começos do século transacto [XIX], não se compreende em tantos dos seus aspetos contraditórios, sem que se conheça bem a história das sociedades secretas, suas inspiradoras” (ib., 208).

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