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SARMENTO, Francisco Martins de Gouveia de Morais | |||||||||||||
No entanto, Sarmento raramente demonstra explicitamente o seu conhecimento uma vez que o seu círculo de correspondentes estrangeiros é bastante restrito, se comparado com outras figuras do seu tempo. A principal excepção é Hübner que lhe dirige as missivas em francês, mas o epigrafista alemão, compreendendo bem o português, pede expressamente para lhe escrever na sua própria língua. Quanto às restantes línguas, Sarmento, comprador compulsivo de livros que tratam os temas do seu interesse, adquire importante bibliografia em vários idiomas (espanhol, inglês, italiano, alemão) demonstrando pelo menos o seu conhecimento passivo. Por isso são aqui pertinentes as palavras que Hübner lhe dirige numa carta: “vous êtes un debateur de premier rang et j’admire la multitude de livres en toutes les langues que vous avez lus” (Cardozo, M., Correspondência…, 1947, p. 201). Sarmento não exerceu nenhuma profissão, não se integrou em instituições de natureza política nem, em boa verdade, em qualquer movimento organizado. No entanto, como homem perspicaz e de pensamento livre, exprimiu, na sua obra uma opinião política, de forma muito crítica, com tom marcadamente liberal, denunciando erros do regime, combatendo injustiças e promovendo a educação popular. Desta forma, integrou algumas iniciativas que de certa forma se inseriam na sua concepção do que deveria ser o seu papel como homem e cidadão empenhado. Uma das suas primeiras e mais conhecidas intervenções registou-se no “caso do Juiz Seco”, um pequeno episódio da História de Guimarães que chegou a ter alguma repercussão no contexto nacional. Em 1868 foi colocado na comarca o juiz de direito Francisco Henriques de Sousa Seco, cujas atitudes prepotentes, que chegaram a atingir o Presidente da Câmara, suscitaram a revolta das mais distintas personalidades locais. Martins Sarmento colocou-se à cabeça dos que reclamavam contra a arbitrariedade do magistrado e exprimiu a sua posição numa publicação local, especificamente editada para o contestar, “Justiça de Guimarães” (1872). A pressão da opinião pública acabou por produzir o seu efeito e o juiz foi transferido, facto que deu lugar a festejos generalizados. O seu empenho em promover o bem-estar comum, em particular o dos mais desprotegidos, revelou-se na constituição da muito efémera Associação de Lavradores, que Alberto Sampaio define como “espécie de sociedade de socorros mútuos rural”. A sua consciência social (política, pelo menos no seu sentido etimológico) levou-a em especial a constituir, ainda em vida, a Sociedade Martins Sarmento e a ela deixou (não apenas ele como a esposa) uma boa parte dos seus bens, legado com o qual deu dimensão a uma instituição ainda hoje notável na promoção e divulgação cultural, em particular na vertente histórico-arqueológica. |
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