| A | B | C | D | E | F | G | H | I | J | K | L | M | N | O | P | Q | R | S | T | U | V | W | X | Y | Z | Estrangeiros | |||||||||||||
SARMENTO, Francisco Martins de Gouveia de Morais | |||||||||||||
Acolhendo a interpretação de K. Müllenhoff, prestigiado editor do texto latino, Sarmento sustentava que esta obra, atribuída ao séc. IV d. C., que ainda hoje suscita ampla controvérsia, compilaria remotas informações geográficas colhidas num périplo fenício, o que permitiria caracterizar um quadro precoce da etnologia da Hispânia. O passo valorizado pelo arqueólogo da Citânia dizia especificamente que os Cempsos e Sefes habitavam o território de Ofiussa e que junto a eles, na parte setentrional, se encontravam os Lígures e Dráganos, o que, para ele, só poderia corresponder ao Noroeste peninsular, interpretação que Adolfo Coelho contesta. Assume alguma importância no plano epistemológico o facto de Martins Sarmento se basear nos dados de natureza literária colhidos nas fontes clássicas e de não colocar em causa a sua fiabilidade. Num momento em que o positivismo tinha assumido peso considerável no âmbito dos estudos clássicos e em que alguns levaram mesmo ao extremo a descredibilização desses textos, revela, neste aspecto, uma proximidade com a tradição humanista. A sua leitura e interpretação dos textos clássicos revela-se muito peculiar, mas quase sempre longe das correntes críticas e hipercríticas que marcaram o seu tempo. Aos argumentos colhidos nos textos, Sarmento adiciona, naturalmente, os de natureza arqueológica, tomando as particularidades da cultura material dos castros (revelados em aspectos como a estrutura das habitações, a produção cerâmica, a escultura, os guerreiros galaicos) como uma clara manifestação de originalidade da sua cultura. Se esta componente da sua teoria poderia parecer mais sólida, ela entrava em conflito com a convicção então vigente de que a língua falada no Ocidente hispânico era céltica. Teve, por isso, que enfrentar a contestação de alguns notáveis da “glótica” (nome então corrente para designar o que hoje chamamos linguística), em particular Leite de Vasconcelos e Adolfo Coelho, que lhe recordaram a natureza claramente céltica de um conjunto significativo de nomes inequivocamente associados ao mundo lusitano, tal como ele o concebia. As divergências de Leite de Vasconcelos com o seu antigo mestre (mas com o qual as relações tinham irremediavelmente arrefecido) situam-se num plano de confrontação de ideias dentro de um certo respeito mútuo. Ao contrário, com Adolfo Coelho, professor de Glotologia no Curso Superior de Letras, a discussão assume uma faceta muito mais conflituosa, como era típico do meio intelectual da época (A.Coelho, “Questões ethnogenicas. Lusitanos, ligures e celtas”. Revista Archeologica. Lisboa,3, pp. 129-77; 4, pp. 153-161). |
|||||||||||||