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SARMENTO, Francisco Martins de Gouveia de Morais | |||||||||||||
Este professor, do alto da sua “cátedra”, avalia desta forma as competências de Martins Sarmento: “não faz ideia clara dos methodos da critica applicaveis aos textos classicos, dos principios mais elementares da sciencia da linguagem, das bases das sciencias ethnicas; é um trabalhador isolado numa pequena cidade de província, rodeado de pessoas bem intencionadas, mas sem competência para discutirem as suas opiniões, que aceitam incondicionalmente.” Entra-se, inevitavelmente, no domínio da polémica aberta, terreno em que também Martins Sarmento se sente à vontade. A resposta directa é dada num extensíssimo texto (“Lusitanos, Lígures e Celtas”), publicado em vários números da “sua” Revista de Guimarães, entre 1890 e 1894. Apesar da importância dos seus opositores a convicção de Sarmento é inabalável. O mundo lusitano deveria considerar-se pré-céltico, ou, para se definir de modo mais preciso, lígure. Este qualificativo com que definiria um enquadramento étnico concreto remete para uma realidade mais complexa e, à luz da investigação coetânea, algo ambígua, controversa e difícil de definir. Por isso, esta componente da sua interpretação histórica constitui, numa moderna apreciação do rigor metodológico da sua investigação, um dos aspectos mais problemáticos. Na sua perspectiva, os lígures teriam chegado a este território através de migrações a partir de regiões mais setentrionais da Europa (das margens do Báltico), estimuladas por movimentos de populações de celtas que antecederiam em muito as chamadas “invasões célticas”, situadas por ele no séc. VII a. C. Seriam parentes dos Albiões e dos Hibérnios e teriam, como eles, uma origem indo-europeia. Por isso os classifica, usando a terminologia da época, como “ários pré-celtas”, considerando que se teriam fixado no Ocidente hispânico numa fase precoce e sustentando que a eles se deveria já associar a “civilização dos dólmens”. O seu anti-celtismo tem como complemento a convicção de as populações do Ocidente hispânico podiam orgulhar-se de um contacto bastante precoce e estreito com a cultura grega. Os argumentos que suportavam esta ideia residiam nas informações literárias e nos vestígios da cultura material. No que dizia respeito ao primeiro, eram eloquentes as indicações dadas por Plínio que considerava que numa determinada área da Galécia se tinham fixado populações de ascendência grega, o que se patenteava, desde logo, no nome dos Heleni, mas que também se estenderiam a outros indícios, como a existência de outra entidade, os Amphiloci. |
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