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SARMENTO, Francisco Martins de Gouveia de Morais | |||||||||||||
Portanto, Martins Sarmento, afastando-se deliberadamente da actividade política em sentido estrito, nutrindo mesmo algum desprezo por ela, demonstra uma elevada consciência cívica, o que constitui, naturalmente, uma outra forma de participação política. Alberto Sampaio, traçando o seu perfil e analisando a sua produção escrita, definiu “três ciclos” no seu percurso intelectual: o primeiro, constituído por composições poéticas, centrar-se-ia essencialmente no ano de 1855; o segundo, correspondente aos estudos literários e sociológicos, abarcaria um período compreendido entre 1856 e 1874; por fim, a terceira fase, sem dúvida a mais importante, compreenderia os estudos históricos e arqueológicos, desde esta última data até à sua morte, em 1899. No que diz respeito às primeiras vertentes, assume algum significado, para além do que escreveu, a sua estreita amizade com Camilo Castelo Branco, aspecto menos conhecido dos historiadores, mas com frequência sublinhado quando se trata de analisar o seu perfil biográfico e de homem de cultura. Sarmento é, de facto, reconhecido especialmente como arqueólogo e aceita bem o título de “escavador da Citânia”. Mas, naturalmente, reage com irritação ao qualificativo depreciativo de “escavador de montes” com que um ministro do reino, o duque de Ávila e Bolama, mostrou o seu desagrado pelo facto de o vimaranense ter recusado a comenda de S. Tiago, depois de alguma controvérsia em torno dessa concessão (Cardozo, Francisco Martins Sarmento…1961, pp. 5-6). No que diz respeito ao seu pensamento, se algum tópico o percorre é a sua inserção plena no quadro cultural, profundamente nacionalista, que tanto peso tem na intelectualidade da segunda metade do séc. XIX. No que diz respeito à sua intervenção específica, ganha especial relevo a caracterização étnica e cultural dos lusitanos, por ele tomados como nossos antecessores. Em consonância com os seus contemporâneos, também o erudito vimaranense pensa que a questão principal que enfrenta reside em definir a essência do “homem português”, neste caso através da análise dos seus antecedentes mais remotos, em especial das populações que precederam neste território os romanos. Sarmento distancia-se, neste aspecto particular, da perspectiva de Alexandre Herculano, que contestava e recusava, com bons argumentos, o estabelecimento de um vínculo entre as realidades pré-romana e do mundo contemporâneo. Apesar da justeza dessa posição característica do positivismo oitocentista, constata-se que boa parte dos que se dedicavam ao estudo do passado pré-romano do Ocidente peninsular, entre eles Leite de Vasconcelos, não a partilham. |
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