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SARMENTO, Francisco Martins de Gouveia de Morais | |||||||||||||
A originalidade de Sarmento, aspecto que ele sempre fez questão de sublinhar e estender a diversos domínios, residia numa singular interpretação da geografia e, especialmente, da etnologia dos Lusitanos. No que diz respeito à primeira vertente, a sua ideia consiste em atribuir-lhes um território que vai do centro de Portugal até ao extremo Noroeste, englobando galaicos e lusitanos numa mesma realidade cultural, interpretando convenientemente um passo de Estrabão. Embora esta sua interpretação inclua alguns aspectos menos comuns (como a vinculação do mundo lusitano aos castros do NW), não entra em conflito com outras perspectivas historiográficos coetâneas ou até mais recentes. De qualquer modo, sobressai particularmente a convicção de que “a unidade civilizacional dos antigos galegos e dos antigos lusitanos” não era para ele “um problema novo, mas um dogma velho” (Sarmento, Dispersos, p. 165). Esta antiga afinidade, na sua ideia, prolongar-se-ia ao longo dos séculos e poderia ainda ser verificada no seu tempo. No que diz respeito à questão de fundo, isto é, ao problema etnológico, a sua originalidade reside em contrariar uma ideia que dominava o panorama científico da altura, sustentado por muitos dos grandes estudiosos coetâneos da questão, segundo a qual esse povo lusitano (ou lusitano-galaico) tinha uma matriz céltica (vd. Millán González-Pardo, “El anticeltismo…” 1983 e Guerra, “F. Martins Sarmento…”, 1999). Pela persistência e frontalidade com que se opõe a esta teoria, Martins Sarmento afirma a singularidade do seu pensamento e, na mesma medida, sublinha o seu isolamento, circunstância de que se orgulha e que a sua personalidade sempre reivindicou. Na sua crença, os movimentos de populações célticas, tão presentes na historiografia da época, afectando amplamente outras regiões da Europa, nunca teriam atingido o mundo lusitano. Uma das vertentes da sua argumentação assenta num princípio de que, se tais movimentações tivessem existido, as fontes literárias gregas e latinas tê-lo-iam registado. Deste modo, aceita a sua presença no Sudoeste ibérico, onde as fontes colocam populações célticas e na área celtibérica, como o próprio étnico o indica, mas recusa a sua presença no Noroeste. Para isso tem de contornar habilidosamente a questão ao considerar que os Neri, também designados como Célticos, habitantes do extremo Noroeste, não contribuiriam para modificar a sua teoria porque, sendo um grupo pequeno, teriam sido “absorvidos” pelos lusitanos. Deste modo, colocando questão da origem destas populações, vai encontrar a resposta no poema Ora marítima de Avieno que analisou circunstanciadamente no que dizia respeito ao Ocidente peninsular. |
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