Durante estes 24 anos, para além da publicação, logo em 1867, do livro sobre o reinado de D. José, editou ainda uma biografia de Sá da Bandeira, em 1887-1888, a sua última obra.

A História da Guerra Civil é, portanto, o trabalho mais importante da sua vida de escritor. Descontando as duzentas páginas introdutórias dedicadas a percorrer a história do território que viria a ser Portugal, desde os tempos da Lusitânia até ao consulado pombalino, uma prática muito comum nos historiadores oitocentistas, o autor dedica-se à narrativa dos acontecimentos, desde o ano de 1777 até 1834.

Divide o estudo em três épocas. A primeira estende-se desde os tempos da mítica Lusitânia até ao embarque da família real para o Brasil, em 1807. A segunda é consagrada à “Guerra da Península”, abrangendo o período cronológico que vai de 1807 a 1813. A terceira cobre os anos entre 1814 e 1834, com o título de “Estabelecimento do governo parlamentar”. Esta última parte ocupa-lhe sete tomos, para além de dois de documentos. A partir do ano de 1826, o autor entra no seu tempo de participante nos acontecimentos fulcrais da história da implantação do regime liberal.

O seu objectivo, já expresso na História do Cerco…, é “passar da tradição oral para a escrita o pregão universal das acções ilustres e das brilhantes vitórias de que se coroou o exército libertador” (História do Cerco…,1846, p.122). A verdade basilar que Soriano quer deixar aos leitores e à posteridade é esta: a guerra civil foi ganha graças à coragem, dedicação e espírito de sacrifício dos soldados do exército liberal - “foi um pequeno exército que resistiu a todo o poder de um exército de quarenta mil homens” (Ob. Cit., p.122) - apesar das falhas de carácter das suas elites. O episódio da derrota de Maio de 1828 funcionou como um revelador da índole dos dirigentes liberais. Enquanto os soldados liberais fogem, a pé, para a Galiza, enfrentando as adversidades do clima e a perseguição dos miguelistas, as elites mostram a sua falta de coragem e de dignidade ao fugirem, no navio Belfast, para Inglaterra. O remate deste acontecimento será a instalação dos soldados, incluindo o grupo de estudantes de Coimbra, no “barracão” de Plymouth. A “imparcialidade”, o “acerto” e o “puro zelo da verdade” (Ob. Cit., p.282), que o escritor se propõe, constituem uma mera declaração de intenções no quadro desta visão da guerra civil em que o legítimo herói é o colectivo dos soldados liberais. Visão bem diferente da de Herculano para o qual o exército libertador está intimamente ligado, na acção e no espírito, à figura tutelar do seu dirigente máximo, o imperador D. Pedro.

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