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Segundo Southey, a linguagem descritiva e refinada de Johnson era insuficiente para narrar os grandiosos feitos militares dos portugueses no medievo. Compreensão semelhante era estendida às obras de Gibbon e Hume, pois esses letrados eram concebidos como excessivamente enredados no decoro clássico, o que colocava obstáculos ao cultivo da individualidade. Em contrapartida, Southey concebia que as expressões literárias de letrados como Francis Bacon (1561-1626), John Milton (1608-1674) e Jeremy Taylor (1613-1667) era análoga em rusticidade, simplicidade e clareza às enunciações empregadas pelos cronistas portugueses. Southey considerava esses letrados como clássicos superiores aos antigos e aos modernos por não terem sido contaminados pelo “gosto metafísico” que vigorou no século XVII. Em suas obras estava presente a rusticidade dos escritos dos séculos XIV, XV e XVI. Ora, utilizar a linguagem adequada para a composição da obra em língua inglesa era fundamental para Southey, uma vez que os feitos narrados de um passado remoto não podiam ser confundidos com o refinamento do tempo presente. A rusticidade medieval portuguesa devia ser recuperada em seus próprios termos, sendo digna a restituição da sua particularidade. Com efeito, Southey concebia que o público letrado de língua inglesa teria interesse na História de Portugal, especialmente em seus mitos de fundação, haja vista suas semelhanças com a história da Grã-Bretanha, cujas origens estavam igualmente envolvidas em fantasias e mitos populares. Em seu projeto inicial, Southey enuncia a intenção de depreender uma pedagogia universal da história de Portugal, sendo seu objetivo demonstrar tanto as potencialidades positivas, quanto as negativas dessa nação para o progresso civilizacional. A expectativa do letrado era que a partir da escrita da História de Portugal fosse possível acessar uma pedagogia universal sobre o desenvolvimento das nações. Portanto, Southey estava envolvido no duplo desafio de tanto restituir a importância do passado dessa nação para a Europa, tendo em vista os preconceitos dos letrados do século XVIII com relação às raízes medievais, quanto problematizar as ações históricas passíveis de causar a decadência. Nesse sentido, o passado tanto era a fonte de feitos grandiosos a serem restituídos como monumentos da herança cultural gótica europeia, quanto a origem dos equívocos que provocaram a decadência da nação no século XVI com a “miserável expedição de [Dom] Sebastião” para África (R. Southey, Journals of a Residence in Portugal 1800-1801..., 1960 [1801], p. 146). |
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