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A memória de Robert Southey e sua História do Brasil foi, sem dúvida, importante para o processo de formação da nação no Brasil no século XIX. Tornou-se fundamental para projetos historiográficos muito distintos, como a História dos Principais Sucessos Políticos do Império do Brasil (1826), de José da Silva Lisboa, comprometida com a tessitura das continuidades entre o presente do novo Império e o seu passado colonial, e a História do Brasil (1836) do britânico John Armitage, engajada com o aprofundamento da distância histórica entre Brasil e Portugal após a abdicação de Dom Pedro I. A monumentalidade da História do Brasil de Southey impulsionou Francisco Adolfo de Varnhagen a se empenhar arduamente em sua busca por fontes inéditas em arquivos, decisivas para a escrita da História Geral do Brasil (1854-1857). Ademais, a publicação da tradução da História do Brasil de Southey em língua portuguesa no ano de 1862, que contou com anotações do cônego Fernandes Pinheiro, se deu em um contexto de disputas historiográficas acirradas em meio aos sócios do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), movidas por projetos distintos de políticas indigenistas a serem desenvolvidas pelo Império do Brasil. Nesse contexto, os letrados brasileiros ligados à herança romântica tinham na obra de Southey uma interpretação mais palatável no que tange à dignidade histórica dos povos indígenas, em contraposição às apreciações extremamente cáusticas de Varnhagen a propósito dessa questão. Southey foi admirado por Almeida Garrett, que logrou êxito em sua solicitação a D. Maria II para a concessão da honraria de Cavaleiro da Torre e da Espada ao letrado em abril de 1838, devido a sua contribuição para a história de Portugal, sistematizada em sua História do Brasil (Cabral, A., “Garrett, Southey e a Torre e Espada”, 1957, p.10). Tamanha admiração à sua obra também foi expressada por Capistrano de Abreu e Gilberto Freyre. Por sua vez, na Grã-Bretanha vitoriana, Southey foi relegado a um relativo esquecimento. Entretanto, nas últimas décadas, a intensificação dos estudos da sua obra vem sendo acompanhada pela reedição das Letters from England (2016) e Sir Thomas More: or, Colloquies on the Progress and Prospects of Society (2018), assim como de projetos editoriais de grande monta em curso, como a edição de parte da sua inconclusa História de Portugal pelo pesquisador Alexandre Dias Pinto, e o projeto de publicação de toda a sua correspondência por Linda Pratt, Tim Fulford e Ian Packer. A concretização desses trabalhos que trazem a público material inédito certamente contribuirá para a elaboração de interpretações mais complexas sobre a obra de Southey e o seu legado, que interconectam de forma profícua temporalidades e espacialidades diversas em escalas transatlânticas. |
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