Anais da Academia Portuguesa da História, (1940-1989)
4 / 10
Não sendo possível nomear todos os estudos, importa ressalvar a abundância de temáticas sobre as quais se criaram estas narrativas: vejam-se os artigos sobre o Brasil, Angola e Moçambique; astronomia e cartografia no tempo dos descobrimentos; história militar portuguesa (campanhas, armamento e sistemas defensivos); a atuação da fazenda, a cunhagem de moedas e, grosso modo, da situação económico-financeira; o papel dos juristas e homens do direito na sociedade e na política; temas culturais (panfletos, comédia, etc.); Inquisição e religiosidade; a correspondência privada de várias entidades; entre muitos outros. O reforço de interesse por matérias historicamente diversas e um novo olhar sobre certos documentos e iconografias revela-se produtivo, embora os modi operandi se mantenham maioritariamente semelhantes – sobretudo com o recurso primacial a documentos de chancelaria, crónicas, diários, entre outros. Predomina, decerto, uma história factual de teor positivista.
O segundo ciclo dos Anais foi publicado entre 1946 e 2003, mas, para efeitos desta análise, compreende-se como data final o ano de 1973 (totalizando 22 volumes). Não lhe sendo associada a celebração de uma efeméride, é por isso mesmo mais abrangente nos campos históricos abordados face à primeira série, permitindo uma escrita mais globalizante quanto a balizas temporais específicas. Embora o período moderno seja destacado pelo Império Português, pelos descobrimentos e por alguns reis de maior destaque da segunda dinastia, passando por temas da contemporaneidade e da própria APH, importa desde já assinalar que o medievalismo português é o período mais estudado deste ciclo. Tal comprova-se pela quantidade de artigos espelhados nesta época, ilustrativos do fascínio que se tinha por esse período. Por seu turno, verificamos uma abordagem metodológica semelhante à da série antecedente na medida em que recorre a diversas áreas de estudo para construir as narrativas históricas que nos são apresentadas, incidindo nomeadamente sobre temáticas diplomáticas, económicas, políticas, militares, institucionais, náuticas, sociais, medicinais e religiosas, entre outras. Importa também referir a carga ideológica a nível político e social inserida nos estudos infra apresentados, que merece particular destaque devido à clara articulação com os valores e doutrinas do Estado Novo e que reforçavam determinados cânones que o regime tinha como certos e inabaláveis. São, por isso mesmo, conceitos do seu tempo.