Anais da Academia Portuguesa da História, (1940-1989)
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Ainda sobre este momento, Marcello Caetano (1953), Fernando Castelo-Branco (1971) e Francisco José Caeiro (1973) procuram explorar e aprofundar as suas conjunturas, fundamentando-se nas crónicas de forma a conhecer os seus efeitos num sentido globalizante – no caso de Marcello Caetano, num sentido localizado (Lisboa). Fala-se em “revolução social” e “revolução nacional” para explicar as profundas transformações que a sociedade portuguesa atravessava, denotando o uso de anacronismos nestas narrativas. Para Francisco José Caeiro, observa-se uma tendência de aglutinação por parte do povo em torno de causa patriótica, exigindo a salvação da Nação através da aclamação de um líder nesse tempo incerto perante a eventual perda da independência. Não se trata de uma luta de/entre classes, mas sim de uma reivindicação popular que se torna nacional à medida que outros grupos sociais aderiam ao movimento, sempre repudiando qualquer ingerência estrangeira nos assuntos ditos internos.
No caso das origens de Portugal – saliente no historicismo romântico do século XIX (Fernando Catroga, História da História em Portugal, 1996, 70-71) e, porventura, nestes Anais –, Mário Cardoso (1968) tenta explicar as origens etnológicas dos lusitanos à luz das suas relações com a nacionalidade. Baseando-se em escritos da Antiguidade (Estrabão) e da Contemporaneidade (A. Schulten), afirma que os lusitanos derivam de povos pré-indo-europeus do Norte de África ou das tribos celtas na região da Gália e Germânia, que eventualmente se mobilizaram para a Península Ibérica. E embora admita a ausência duma “noção de pátria comum”, o autor refere o espírito de unidade sociocultural dos lusitanos que forma o “tronco, embora remoto, dos Portugueses de hoje”, seja pelo sentimento de autonomia ou pelas bases culturais elementares que perduram não obstante as transfigurações que foram alvo com o passar do tempo.