Anais da Academia Portuguesa da História, (1940-1989)
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Após a mudança de regime em 1974, acentuaram-se mudanças historiográficas que já se vinham evidenciando antes dessa tramitação sociopolítica e que se consolidaram gradualmente no tempo de transição. De facto, nota-se um corte (não total) com a historiografia ligada ao Estado Novo com uma escrita da História mais direcionada para temas económicos, sociais, fiduciários, artísticos, linguísticos, religiosos, etc. – sem implicar o esvaziamento das histórias política e militar –, em detrimento da perspectiva nacionalista característica do regime anterior. Contemplam-se temáticas pouco ou nada estudadas num espírito reformista, multidisciplinar e mais crítico, ligando várias conjunturas na explicação dos fenómenos históricos, em paralelo com uma certa intenção de rever estudos feitos previamente agora à luz de novas perspetivas e processos analíticos – especialmente com a vinda de novos investigadores para a Academia.
A economia portuguesa anterior ao período contemporâneo é destacada pela sua importância no advento do império e de uma economia centrada no mar e nas oficinas localizadas, sobretudo na compreensão das suas estruturas num enquadramento “industrial” (Castelo-Branco, 1975; Banha de Andrade, 1979; António Cruz, 1980; Almeida Santos, 1989, etc.), a par de análises fiduciárias e ao sistema financeiro (Ribeiro Soares, 1977; Bívar Guerra, ibid.). Por seu turno, uma dimensão de história social torna-se gradualmente tão ou mais importante com o advento de estudos que visam explorar determinados núcleos multiculturais num contexto nacional (sobre judeus, mouros, romenos, italianos, franceses, angolanos, entre outros), das estruturas nas quais assentava a sociedade portuguesa (caso de Mattoso, 1977) ou a noções jurídicas referentes à escravidão (exemplo de Eduardo dos Santos, 1975). A vertente artística é elevada na sua importância por autores como José Augusto França (1977) e Francisco da Gama Caeiro (1980), sobretudo na defesa das artes enquanto objeto de interesse para a historiografia. Ou ainda a arqueologia e a antropologia foram objecto de renovada atenção na compreensão das civilizações anteriores a Portugal (caso de Fernando de Almeida, 1977). Foi-se afirmando, também nos Anais, uma historiografia cada vez mais multidisciplinar e abrangente nas áreas de estudo ao invés do enfoque em determinados fenómenos-chave, reivindicando em alguns casos uma observação mais crítica das fontes a par de visões mais globalizantes e estruturais.