Anais da Academia Portuguesa da História, (1940-1989)
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Numa ótica social e ultramarina, Fernando Castelo-Branco (1970) diverge da tese de Charles Boxer referente ao racismo e esclavagismo praticados pelos portugueses nas suas possessões ultramarinas, nomeadamente para com os negros. Castelo-Branco não nega estas práticas, mas defende que tais fenómenos não eram aplicados exclusivamente aos negros e indígenas, fundamentando-se na presença de escravos de várias etnias (negros, mulatos, caucasianos, etc.) dentro do Império Português. Esta aparente indiferença perante o pigmento da pele visa descartar qualquer acusação de racismo que recaia sobre os portugueses. Pretende-se também demonstrar o sentimento de unidade e de coesão multiétnica nas províncias ultramarinas possíveis através das características de confraternização e ligação do povo português, referindo estudos de alguns autores estrageiros (nomeadamente o luso-tropicalismo de Gilberto Freyre).
Adicionalmente, esta série como que oferece uma “introspeção” ao apresentar certos artigos sobre a historiografia e a própria Academia Real da História Portuguesa (ARHP). Um grupo de autores debruça-se sobre Alexandre Herculano e outras figuras na área da historiografia para analisar as respetivas relevâncias neste campo (caso de António Baião), ou ainda sobre o Arquivo Nacional da Torre do Tombo como fonte arquivística (caso de António Joaquim Dias Dinis). Fernando Castelo-Branco apresenta uma tese em que salienta a importância do trabalho da ARHP para a elaboração de estudos posteriores, apesar do facciosismo direcionado para a genealogia e para uma história dos grandes feitos monárquicos e religiosos. Adicionalmente, é alvo do escrutínio histórico de Afonso do Paço, Fernando Castelo-Branco e de Justino Teixeira Botelho em matérias que concernem, respetivamente, à defesa do património arqueológico por parte da instituição para fins de preservação cultural e investigação, a matéria dos subsídios que recebia do Estado e os propósitos colonialistas da instituição relativamente à escrita de uma história secular e religiosa do Ultramar (com maior importância para o elemento religioso).