São múltiplas as perspectivas de abordagem possíveis do título centenário Brotéria. A vertente historiográfica é uma delas, embora não tenha surgido nem nunca se tenha apresentado, até ao presente em que continua a publicar-se, como revista de História. A presença contínua do título no panorama editorial português – apenas interrompido em 1911 – pode elidir o duplo movimento subjacente à presença da Brotéria. Por um lado, conheceu diversas metamorfoses, entre as quais a ocorrida em 1925, talvez a mais significativa, por certo a de maior impacto e longevidade e a que contribuiu para firmar a relevância deste periódico no percurso cultural português dos últimos cem anos; por outro lado, é a mesma revista fundada em finais de 1902, não no conteúdo, mas no propósito que animou os seus promotores. Surgiu nesse ano com o subtítulo de «Revista de Ciências Naturais do Colégio de S. Fiel» que a Companhia de Jesus (SJ) dirigia em Louriçal do Campo, Castelo Branco, o que a distancia da revista de cultura em que se tornou em 1925. Porém, o intuito de explicitado no primeiro número de contribuir para «o progresso das ciências naturais em Portugal» era permeado por uma intencionalidade epistemológica que era, simultaneamente, evangelizadora, uma vez que o desenvolvimento daquelas ciências constituía, nas palavras do mesmo texto, «como que dar a mão à inteligência para a elevar à suprema verdade que é Deus». A sua titulação era reveladora destes propósitos: evocava o prestigiado naturalista português Félix da Silva Avelar, mais conhecido pelo pseudónimo que juntou ao apelido, Avelar Brotero (1744 - 1828), que foram também um clérigo diácono católico, sinalizando a compatibilidade da experiência e vinculação religiosas com o espírito e atividade científica como dois campos distintos, mas passíveis de diálogo, tanto no passado quanto no presente. Optava por desmentir a retórica de combate do cientismo panfletário que equivalia Jesuitismo a congreganismo e ambos ao obscurantismo, não com uma apologética siamesa em favor da religião, mas, o que era novo, desenvolvendo estudos científicos sólidos comprovativos da sua visão antropológica e epistemológica.