A edição crítica, que circula sob chancela da Fundação Calouste Gulbenkian, baseia-se na última versão de 1970 e teve em atenção as diversas versões desde o ano letivo de 1961/62, o que significa que o pensamento histórico do Padre Manuel Antunes se exponenciou durante esta década, entre os quarenta e os cinquenta anos de idade. A sua ideia de história foi tecida no cruzamento das grandes problemáticas da época e é sintomática dos debates ocorridos sobre o caráter unitário do conhecimento académico, a natureza das ciências e a epistemologia da história.

No primeiro aspeto, a defesa de um conhecimento uno mostra uma continuidade da filosofia centro-europeia do século XIX, adotada no fundamental pelos setores progressistas católicos universitários. O discurso de Manuel Antunes, de tradição eminentemente tomista, exprimia-se frequentemente de modo binário, dialético, em ordem a alcançar a síntese. Na historiografia, este princípio teve uma aplicação singular: para evitar o esvaziamento do saber, tratava temas do passado problematizando o presente (Idem, pp. 41, 205, 246).

‘História é uma ciência?’ – foi a interrogação dos intelectuais da época, que teve em Antunes uma resposta sui generis: uma ciência, mas também uma arte. As suas caraterísticas ‘científicas’ seriam: a objetividade, a positividade (i.e., incide sobre factos), a operatoriedade, a racionalidade (i.e., legal e regular, cingindo-se a uma única lei histórica do progresso) e a aproximatividade (Obra Completa, t. 1, vol. 2, 2008, pp. 30-38). A aproximação entre ciências foi perspetivada, no esteio de Goldman, com uma noção de ‘conhecimento’ que englobava, além dos saberes de natureza científica, também os de natureza técnica, literária, filosófica, etc., e permitia a invocação de todos os espetros do saber. Assim, a noção de história teceu-se conceptualmente numa dimensão filosófica (e.g., história enquanto ‘tempo’), funcionalmente com outras áreas do saber, como a matemática (e.g., teoria dos conjuntos de Georg Cantor, com noções de ‘estrutura’ e ‘génese’ de Goldman, aplicada às civilizações helénica e romana, de modo a conceber o progresso na história), e criticamente em relação à historiografia vigente (e.g., revisionismo do ‘darwinismo’ na teoria da origem e declínio das civilizações de Arnold Toynbee).

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