Nasceu num berço sem letras, senão as elementares, mas o pai, João Vieira Mendes Lima, foi bem sucedido em números, no comércio & indústria do arroz. O que lhe permitirá, ao invés dos irmãos mais velhos da extensa família, a instrução no rigoroso Colégio S. Pedro, onde prepara o ingresso em Medicina que chega a frequentar.

Poeta provisório, transitado para a Filosofia, cedo se destaca SL na arcana Universidade como dirigente republicano estudantil e seareiro (na greve de 1926 e nos periódicos Humanidade e Gente Nova) e excepcional discípulo, em filosofia e história da filosofia, de Joaquim de Carvalho (V.), o relevante pedagogo e historiador das ideias no primeiro meio século da nova Faculdade de Letras pautada, após 1932-34, pelo crescente clima de repressão filosófica e liquidação policial e mental da liberdade. SL bem reterá a lição do mestre na própria existência, ao ser saneado da Universidade (por perturbar a “vida da Nação”, em 16-V-1935, ao abrigo do dec. 25.317, que expulsou trinta e três altos funcionários do Estado e universitários, entre os quais, Aurélio Quintanilha, Abel Salazar, Rodrigues Lapa, Norton de Matos) e politicamente obstado (pelo próprio Salazar) de progredir, após a recondução (1942), apesar dos notáveis textos e provas académicas que produz e do invulgar pedagogo que é (discípulo da escola nova franco-suíça, acumula a docência na Escola Normal Superior de Coimbra). Antetempo aposentado, agravada a neurose depressiva, em 1965, deixaria praticamente de escrever, salvo um texto censurado (1968) que anunciava o seu autêntico testamento ético, Carta aberta às universidades portuguesas, publicado (além doutros curtos comentários) nos dias imediatos à revolução de 25 de Abril.

A posição singular que ocupa na historiografia portuguesa em meados do século XX não decorre, assim, do facto de SL ser um historiador de «método», como à época se entendia o ofício nas mediações do positivismo e neopositivismo metodológico da escola francesa de Langlois e Seignobos; ou um profissional devotado à estrita pesquisa arquivística e documental. É sobretudo ensaísta, filósofo, psicólogo e epistemólogo. O seu maior contributo é a grande inovação que introduz nestas áreas no contexto cultural português.

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