Por fim, g) anote-se com maior detalhe o contributo, contra necessitarismo e providencialismos de distintos matizes, ainda contra as filosofias e teleologias da história, que desenvolveu no domínio da historiologia («A Historiologia de Sílvio Lima», in Estudos em homenagem a João Francisco Marques, 2000), em Determinismo, Acaso e Previsão na História (1943) e nas Lições de Teoria da História (1957-1964) na docência em Coimbra, promovendo o paradigma compreensivista e uma hermenêutica histórica que demoraria a vingar, dir-se-á, porque os próprios postulados da pública libertas philosophandi e a essencial exigência cívica da dialogia democrática, a começar no campo universitário, foram proscritos como a última danação do inferno.

Siga-se o caminho traçado, tentando abarcar a grande coerência do trajecto de SL: a) Logo em 1927, na discussão Ética de J.-M. Guyau e da «crise moral contemporânea», propõe o itinerário de pesquisa do neocriticismo e de reingresso nas filosofias do sujeito, sobretudo de kantiana matriz crítica, que o Idealismo alemão de Marburgo e Baden prosseguia e, na linha de Brunschwicg (influído em J. de Carvalho e A. Sérgio), indaga a racional consciência de si (relacional e dialógica, a partir da dialéctica fichteana do eu / não-eu). Ora, este seria o fundamento gnosiológico para a apreensão do movimento do mundo e da existência, tomando como corolário a razão cartesiana, construtiva, relacional e epistémica, ao arrepio da vulgata e das versões abreviadas da razão aristotélica, taxinómica (ou categorial) e ontológica que, pela mão teológica da suma neotomista (sobretudo na versão da filosofia perene) e da paralaxe empírica do realismo, inundava as bancas universitárias. E, claro, também contra os irracionalismos redentores e messiânicos que nas décadas de ’20-30 sulcavam os devastadores abismos europeus, se insurgiu. Em síntese, a regra epistémica torna-se normativa ao longo da obra: ao chamar o indivíduo para o espaço mobilizador do espírito, confere-lhe uma dimensão universalizante que o faz comunicar com o sítio, que é já seu, da outridade, pois o kromenon socrático, a comum utilidade ou bem comum é «saber em comum». Daí ter desenvolvido o Ética num amplo quadro referencial da história da filosofia, no esforço secularizador dos saberes, dos Gregos a Espinosa, do racionalismo idealista às recentes discussões científicas que então tomavam os fora académicos. A historicidade do spiritus, a correlata e diacrónica consciência cultural, induzem ao suprabiológico que o humano é (se o determinismo bio-sociologista não alcança a autodeterminação do Ser), animal de afectos que supera, contudo, a Natureza onde se dá e se revela. Único animal histórico, o Homem faz-se homem, é automaturgo duma res publica que habita e faz sua e da qual constrói as normas, dentro da livre adesão a uma Lebensphilosophie, «hipótese metafísica» (no sentido de Guyau) à qual só a liberdade confere a plenitude de sentido e mesmo único critério moral, na óptica de uma mundividência secularizadora.

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