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Soares, Mário Alberto Nobre Lopes | |||||||||||||
Situar Mário Soares na historiografia nacional é uma tarefa complexa que não podemos aqui desenvolver. Não há dúvida que a marca da historiografia republicana, da Seara Nova e, em parte, de Vitorino Magalhães Godinho estão presentes nos seus trabalhos. O seu meio familiar, a educação recebida e o envolvimento com a oposição ao Estado Novo certamente influíram também na escrita da história, tanto nos temas por si escolhidos como na forma crítica e problematizante com que o fazia. O que é evidente durante a sua passagem pela Faculdade de Letras de Lisboa, em que alternava entre a investigação histórica e o activismo político. Estas duas componentes estariam intensamente ligadas, sendo possível afirmar que os estudos de Soares sobre o passado partiam em larga medida dos problemas do seu próprio tempo. Mais tarde, contactando com outros historiadores – portugueses e estrangeiros (sobretudo franceses) –, nota-se uma aproximação à escola dos Annales. É introduzido nesta corrente por V. Magalhães Godinho, e a sua estadia em França pressupõe a convivência com historiadores reconhecidos. As suas narrativas assentam sobretudo em perspectivas políticas e jurídicas que não recusam aspectos sociais e económicos, formando uma análise mais abrangente e um “diálogo pluridisciplinar” entre os vários domínios das ciências humanas como forma de compreender o passado no seu conjunto (Soares, “Olhar o passado com os olhos do futuro”, 1987, p. 53). E ao invés de explicar um acontecimento como algo espontâneo, insere-o no espaço e no tempo: a título de exemplo, afirma que os Descobrimentos portugueses ocorreram porque já existiam conhecimentos e técnicas herdados através do contacto com outras civilizações e que foram sendo aperfeiçoadas com o tempo (Soares, “Uma aventura…”, 1988, p. 167). Mas os seus discursos posteriores a 1974 revelam também uma tendência de exaltação do povo português através do tempo. Facilmente se conota isso com o discurso político, mas é uma perspectiva que implica a existência de traços identitários dos portugueses através do tempo e uma clara associação com os homens de então. Tudo parece apontar para uma questão de identidade colectiva e do reconhecimento de um passado que se herdou, tendo que lhe dar continuidade atendendo às transformações que ocorriam no mundo – novamente a dimensão prospectiva da história. |
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