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Soares, Mário Alberto Nobre Lopes | |||||||||||||
Tal como outros escritores, intelectuais e historiadores, Mário Soares não se furtou ao recurso da história como arma política na reivindicação de valores como a liberdade, a democratização ou o diálogo político como forma de expressão. Num discurso proferido em 1969 a propósito da revolução de 31 de Janeiro de 1891, Soares expressa uma continuidade entre os problemas desse período e os de Portugal seu contemporâneo, procurando reter esse “legado histórico” de resistência e de luta pelos ideais democráticos através da problematização da sociedade e subsequente discussão de soluções viáveis. Nota-se ainda um certo contraste entre um regime desprovido de sentido e uma alternativa capaz de fazer avançar a nação – um paralelo bem visível entre Monarquia-República e Estado Novo-Democracia. E se, nas suas palavras, “o curso da história não pára nunca”, havia que retirar determinadas lições do passado passíveis de serem aplicadas ao tempo presente em vista do futuro (Soares, Escritos Políticos, 1969, pp. 137-8 e 142-3). Após a revolução de 1974, Mário Soares continuou sempre interessado em história. É-nos possível traçar alguns dos temas que mais abordou através das suas intervenções públicas a propósito de determinadas efemérides ou, paralelamente, justificando uma acção política com recurso à história. As várias evocações da I República e do 5 de Outubro são manifestas neste sentido. A sua importância e significado na vida portuguesa demonstram-se na construção do regime democrático, algo salientado pela influência da Constituição de 1911 na de 1976. Em causa estão valores que pugnam, por exemplo, pela democracia e pela liberdade, veiculados pela revolução de 1910 que, não obstante terem raízes noutros séculos mais recuados da história portuguesa, culminam nessa primeira afirmação republicana (Soares, “A democracia moderna e as lições do passado”, 1987, pp. 62-3; “Uma República moderna”, 147-8). Nas suas palavras, o 25 de Abril de 1974 foi essa reafirmação do 5 de Outubro de 1910, a perduração desse legado republicano “que constituiu outro momento ímpar de reencontro do Povo com a História” (Soares, “Estudar criticamente a República”, 1992, p. 82). Um outro caso é a descentralização administrativa e o desenvolvimento regional – assunto caro a Soares no decurso da sua vida política. Além de argumentos de cariz político, social e económico, o autor não se furta a referir alguns nomes históricos que fizeram da descentralização a sua bandeira. Portanto, não é de estranhar que fale de José Félix Henriques Nogueira e de Alexandre Herculano enquanto figuras máximas do municipalismo que reforcem essa tradição que o autor considera como sendo secular e democrática (Soares, “Descentralizar para desenvolver”, 1987, p. 91). |
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