Em 1911, com a criação do Curso Superior de Letras e a nomeação de um corpo docente de raiz, C. M. de V. foi convidada a ocupar as cadeiras de Filologia Germânica e Portuguesa. Aceitou, mas desde logo demandou transferência para a Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, alegando a distância que separava a capital da sua residência. Deste modo, tornou-se a primeira mulher a exercer um cargo de professora universitária com uma cátedra em Filologia Românica. As Lições de Filologia Portuguesa (1946) são o testemunho de algumas das suas aulas, embora também leccionasse Língua e Literatura Alemãs. A idade avançada foi menos o pretexto para pedir dispensa do que os múltiplos trabalhos em que se achava embrenhada, mas finalmente estava ainda no exercício docente quando foi colhida pela morte, de tal modo que se conhece pelo menos o testemunho de uma aluna (“À S.ª D.ª Carolina Michaëlis de Vasconcelos”, Dra. Carolina Michaëlis de Vasconcelos…, 1926, pp.9-10).

A Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra incorporou parte do espólio da antiga professora, pelo que além de manuscritos se podem consultar livros anotados por seu punho. Além desta ocupação profissional que lhe tomou a última década e meia de vida, manteve-se ligada a publicações europeias especializadas. A sua estreia editorial ocorreu em 1867, ao tornar público um pequeno estudo crítico sobre a obra do romanista italiano Adolfo Mussafia no Archiv fuer das Studium der neueren Sprachen und Literaturen, revista vienense em que publicou com assiduidade por mais de uma década. A Zeitschrift für romanische Philologie, dirigida desde a fundação em 1877 por Gustav Gröber, é outro título que acompanha a sua bibliografia até 1905, e onde ocorreu a sua revelação como camonista. Por não continuar esta notícia bibliográfica do seu intenso labor como articulista, apenas se indica que o seu nome consta em revistas tão variadas como Bulletin Hispanique, Jahrbuch fur romanische und englische Literatur, Literaturblatt fur germanische und romanische Philologie, Romania ou Revue Hispanique (inter alia, Eine Berliner Romanistin in Portugal…). Entre nós, despontam os estudos divulgados pelas Revista Lusitana e Revista da Universidade de Coimbra. Ressalta o seu papel na Lusitânia: Revista de Estudos Portugueses (1924-27), em que figura como primeira directora. Trata-se de um projecto de renovação marcadamente nacionalista, a que aderiram Agostinho de Campos, Jaime Cortesão, José de Figueiredo ou Ricardo Jorge. A assunção de tal cargo por uma mulher alemã conferia uma certa peculiaridade a este grupo, bem como ao lusismo de amplo espectro que este representava (História da História em Portugal séculos XIX-XX, vol.I, 1998).

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