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O cânone científico positivista instalou-se no seu labor filológico nomeadamente pela operação de categorizar, pela cesura operada em grupos tornados homogéneos à luz de uma taxonomia regrada, em que a separação de essências parece ser inevitável. Deste modo, encontramos o problema da autoria, trazido a lume tanto em obras extensas como em notas minuciosas. A ideia de que só uma pessoa poderia ser responsável por escrever determinada peça literária tornava-se, nos finais do século XIX, perfeitamente lídimo. Desde o que é considerado o primeiro estudo científico de literatura escrito em solo português (Poesias de Francisco de Sá de Miranda, 1885), C. M. de V. atribui-se a tarefa de discernir autorias e fixar datas. Procurou a verdade pelo aniquilamento dos erros grosseiros, eliminando do repertório camoniano peças escritas antes do nascimento do autor, e enfrentando perfeitos mistérios, como o anagrama Crisfal - écloga de Cristóvão Falcão? O mesmo movimento levou-a a descobrir e enfrentar problemas de homonímia usuais na literatura peninsular. Caso de duas pessoas diferentes, como o regente D. Pedro, duque de Coimbra, confundido com o seu próprio filho, este sim verdadeiro autor da Tragédia de la insigne reina Doña Isabel (Uma obra inédita do Condestável D. Pedro de Portugal, 1899), ou caso de um só indivíduo, exemplo de Gil Vicente afinal dramaturgo e ourives (Notas Vicentinas, vol.II, 1918) são igualmente deslindados com recurso à metodologia de crítica literária. A verdade remete para a própria alma ou psyque, por sua vez remissa a um ser colectivo. A autoria transforma-se na pergunta de ser ou não uma produção nacional, ser ou não uma expressão originalmente portuguesa. Não apenas porque muitos autores portugueses escreveram em outras línguas ibéricas, mormente o castelhano, mas também tendo em conta o estilo literário (usualmente importado e adaptado) e as temáticas de cariz exclusivamente nacional, terminando o seu inquérito no próprio acto de escrever – afinal a gramática como último reduto da cosmovisão portuguesa. |
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