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Quem foi, afinal, Varnhagen? Discípulo de Ranke, dos positivistas, dos metódicos? Seria um detalhe praticamente não haver referências a Ranke em seus trabalhos? Em que positivismo ou em que princípio metódico deveríamos enquadrá-lo? Comte e Monod também são autores ausentes em sua obra. Capistrano de Abreu, em 1878, não lamentava que Varnhagen "ignorasse ou desdenhasse o corpo de doutrinas criadoras que nos últimos anos se constituíram em ciência sob o nome de sociologia"? (Necrológio, 1878, p. 507) E Gilberto Freyre, em Casa Grande & Senzala, não o considerava de "um simplismo infantil quando deixa(va) a pura pesquisa histórica, pela filosofia da história"? Por outro lado, ele também não participou inteiramente deste movimento epistemológico que se consolidou no século XIX, tributário da filosofia da história de Voltaire, de recusa à erudição, definida principalmente por seu componente antiquário. Sem pretender situá-lo em uma difícil e duvidosa história das influências podemos, ao menos, afirmar que Varnhagen compartilha de uma série de noções gerais e difusas da moderna historiografia Oitocentista que surgem um pouco por todos os lugares à revelia da identificação com uma corrente teórica determinada: ou seja, aquela do estabelecimento da verdade histórica através do trabalho nos arquivos, da busca de documentos originais, da objetividade narrativa e da imparcialidade do historiador, características que revelam, por outro lado, indisfarçáveis traços da tradição erudita e documental da Academia Real das Ciências de Lisboa. “A escola histórica a que pertencemos – declara no prefácio à Historia das luctas com os Hollandezes no Brazil – é, como já temos dito por vezes, estranha a essa demasiado sentimental, que, pretendendo comover muito, chega a afastar-se da própria verdade” (1871, p. XXV). Desse conjunto de prescrições, a mais decisiva para a epistemologia histórica do século XIX era a questão da imparcialidade do historiador. E nela, apesar de seu esforço retórico, Varnhagen perde-se completamente. A distinção entre sujeito e objeto da pesquisa, fundamento teórico da emergente ciência histórica, era uma premissa que ele tinha muita dificuldade em respeitar. Ele a elidia com mais freqüência que supunha e que nós, à primeira vista, possamos supor. |
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