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Para conhecer, reconhecer e assim abastecer a capacidade descritiva é preciso antes ver, mas com olhos afiados, criteriosos, poderíamos dizer científicos, como os de um “antigo engenheiro”, formado na antiga metrópole. O resultado são explanações que mostram como a situação do Brasil profundo não havia se alterado muito desde as viagens de John Mawe, de Spix e de Martius, de Neuwied ou de Saint-Hilaire, entre outros, durante os anos 1810-1820. A despeito das dificuldades do itinerário, o historiador avaliou seus resultados como proveitosos. Não somente confirmou o lugar propício, no seu entender, para a instalação da nova capital, sobre a qual tinha um “pressentimento bem apoiado em dados geográficos”, como considerou que a região era apropriada à colonização européia, da qual era um infatigável defensor. Antes de voltar à Europa, passa pela Bahia. Varnhagen queria conhecer Porto Seguro e Ilhéus. Nessas cidades, realizou pesquisas com o objetivo de encontrar as fontes de suas respectivas fundações. Encontrou alguns documentos, mas decepcionou-se com o péssimo estado de conservação em que se encontravam. A viagem, no entanto, não fora inútil mas “de grande vantagem” porquanto o “conhecimento individual" que fez delas – dessas “duas localidades, núcleos de duas de nossas capitanias primitivas” – poderia ampliar sua capacidade de escrever a história: “melhor poderei descrever para o futuro”. Não se trata apenas de uma compensação à inexistência de documentos acessíveis ou confiáveis, mas de um expediente cognitivo: isto é, a visão aparece não como um último recurso, mas como instrumento de saber; portanto, não como uma metodologia alternativa, mas como fundamento epistemológico da pesquisa. Ou seja, ele não busca no presente os traços do passado de uma forma instantânea e irrefletida; a autópsia, metodologia dos antigos, em que o olho funciona, de acordo com François Hartog, como “marca de enunciação, de um eu vi como intervenção do narrador em sua narrativa para provar” (Le miroir d’Hérodote..., p. 272) o que afirma, não é em Varnhagen um dado imediato da consciência e sim um trabalho intelectual que requer conhecimento anterior e uma constante interlocução entre a inatualidade pretérita e o presente. Sua intenção era a de um dia “depois de acabar a nossa Historia da Independência”, publicar o diário desta viagem – na qual inclusive acreditava ter encontrado o local exato da chegada de Cabral e da celebração da primeira missa. O historiador-viajante não teve tempo de escrevê-lo. As vicissitudes da viagem provocaram-lhe uma doença fatal. Em 29 de junho de 1878, com 62 anos, o Visconde de Porto Seguro morre em Viena, longe, como sempre, de sua terra natal. |
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