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Parece-me que o conjunto dos trabalhos e daquilo que se sabe sobre sua vida pode ser interpretado como tentativas de organização de duas temporalidades distintas e simultaneamente imbricadas: a da história do Brasil, e a da sua biografia. O mesmo cuidado em atribuir um sentido à história da nação, seu passado, presente e futuro, ele tem consigo. A história é um instrumento desse duplo reconhecimento. Com ela se conhece, se compreende. Com ela, Varnhagen prova sua nacionalidade e a do próprio país. A historiografia varnhageniana encerra assim um drama de ordem psicológica particular, onde tudo se confunde constantemente: ao mesmo tempo resposta a uma questão existencial, e uma tentativa de explicação às necessidades, conscientes ou inconscientes, do Brasil: quem somos? De onde viemos? Sua obra, sua carreira diplomática, seus abundantes escritos epistolares, seu testamento, que são elementos constituintes deste discurso do Oitocentos que chamo de retórica da nacionalidade, participam de uma lógica, ao mesmo tempo, retrospectiva e prospectiva, através da qual é possível se perceber a consistência e a constância que ele desejava conferir a sua existência. Estratégia de ação que não passa de uma ilusão biográfica? Não estou certo. Parece-me, que mais do que induzir a um simples logro da imaginação, os traços da vida e o conjunto da obra de Varnhagen, revelam se não uma crença pessoal em quem ele era, o que ele representava de fato e o que poderia vir a representar, ao menos uma sólida intenção de não apenas inventar uma biografia mas também de protegê-la, enfim, uma vontade intensa de cuidar de si. |
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