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Em seu testamento consta a orientação de que no local de seu nascimento fosse erigido um monumento à sua memória. Quatro anos após seu desaparecimento, nas terras da Real Fabrica de Ferro de São João de Ipanema, sua vontade foi atendida. Em uma das faces do pedestal se lê a seguinte inscrição: “À memória de Varnhagen, Visconde de Porto Seguro, nascido na terra fecunda descoberta por Colombo, iniciado por seu pai nas coisas grandes e úteis. Estremeceu sua Pátria e escreveu-lhe a História. Sua alma imortal reúne aqui todas as suas recordações”. Não se sabe quem escreveu esse epíteto. Pode ter sido um amigo, um admirador, alguém da família ou o próprio Varnhagen. Seja como for, a solicitação do historiador não precisa ser percebida apenas como um reflexo egocêntrico, mas talvez como uma atitude preventiva. Tudo indica, a partir do que se sabe sobre sua vida, que Varnhagen tinha o pressentimento de não ser muito popular em seu país, e que desconfiava da fidelidade de seus colegas em preservar sua memória. Ele sempre reivindicou que a pátria reconhecesse seus grandes homens. Parece que não mudou de opinião, mesmo após a morte! Eis aqui um dos limites do paradoxo de Varnhagen: o melhor historiador da nação tinha dificuldades em ser reconhecido como desejava, sobretudo no IHGB; o grande patriota que não está quase nunca na sua pátria. Nota-se, tanto na sua correspondência, quanto na sua obra, que Varnhagen passou boa parte de sua vida procurando resolver esta ambigüidade, ou, no mínimo, a dominar este sentimento de desterrado. Ele procurou estabelecer uma ligação constante, uma coerência íntima entre os termos discordantes de sua existência, como brasileiro e como historiador da nação. A imensa obra dedicada ao Brasil e à sua vinculação com Portugal, não seria uma maneira, para ele, de estar sempre entre os brasileiros e entre os leitores lusos? “Toda a modéstia – escreveu em carta a D. Pedro II em 1854 – não é bastante para que eu não reconheça que a Historia do Brasil, ao menos em muitos de seus períodos, fica com a minha obra de uma vez escrita, e que ela viverá (a obra) eternamente, e fará eternamente honra, ao Brazil e ao reinado de Seu Excelso Protetor". Como a obra de Tucídides: uma aquisição para sempre. . |
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