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Embora houvesse no IHGB uma exortação ao trabalho em equipe desde a sua fundação, na prática a pesquisa individual preponderava. O isolamento de Varnhagen em relação a seus pares não seria um traço específico de sua personalidade intelectual, não fosse pelo fato de podermos relacioná-lo a certa necessidade que tem de ser o primeiro, o iniciador, aquele a quem se deve o começo. O epíteto de Heródoto brasileiro não lhe será atribuído pela historiografia moderna ao acaso. Não parece uma mera coincidência que Robert Southey, que tivera, em algum momento, a pretensão de que sua obra significasse para os brasileiros o que a de Heródoto representava para os europeus, tenha sido duramente criticado por Varnhagen. History of Brazil, publicada em três volumes nos anos 1810, seria, segundo o comentário que se encontra na primeira edição da Historia Geral do Brazil, de 1854, sem unidade, desordenada, repetitiva e fatigante, características responsáveis pela sua frágil recepção (a ausência, naquele momento, de uma tradução para o português é simplesmente desconsiderada pelo brasileiro). É compreensível, pois Southey antes de ser um bom historiador era, conforme uma precisão nada desinteressada de Varnhagen, no segundo volume da História Geral do Brasil, de 1857, um "ilustre poeta laureado". A obra do inglês poderia, no máximo, aspirar à condição de Memória para escrever a história do Brasil e dos países do Prata. Quase uma fonte portanto. Quem sabe por essa razão ele tivesse tanta dificuldade de se distanciar dela. Ao que tudo indica, a primeira história do Brasil deveria ser a dele, e o primeiro historiador brasileiro deveria ser ele. Não que Varnhagen pensasse isso desde o começo de sua carreira. A Historia geral inclusive foi pensada inicialmente como uma Geographia Physica do Brazil. A tentação herodoteana foi tomando forma aos poucos, à medida que suas pesquisas desenvolviam-se de forma cada vez mais profissional, conforme, enfim, o ritmo de seus movimentos. Por conseguinte, para se compreender Varnhagen, através de seus trabalhos e de sua copiosa correspondência, é preciso não perder de vista que se trata de um discurso que vem do passado racionalizado pelo autor; não há imprevidência nele, suas polêmicas, por vezes acrimoniosas, são contidas, na maior parte das vezes, à disputa acadêmica. E mesmo quando o controle sobre o verbo parece escapar-lhe, os ataques que profere revertem-se em defesa do seu caráter. |
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